Estudo aponta quem venceu a disputa entre megalodontes e grandes tubarões-brancos

Artigo sugere que as duas feras coexistiam há milhões de anos e caçavam os mesmos tipos de animais

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Veronique Greenwood
The New York Times

Vinte milhões de anos atrás, um predador com uma boca do tamanho de uma porta de metrô e dentes maiores que uma mão humana vagava pelos mares. O megalodonte, maior tubarão que já viveu na Terra, podia chegar a mais de 15 metros de comprimento, e foi o flagelo do oceano durante milhões de anos. Então ele desapareceu.

O que aconteceu exatamente que levou essa fera à extinção é um tema de muita discussão entre os cientistas. Agora, um artigo publicado na terça-feira (31) na revista Nature Communications sugere que grandes tubarões-brancos, que coexistiam com o megalodonte, caçavam os mesmos tipos de animais que o tubarão muito maior comia.

Essa evidência ajuda a apoiar a teoria de que a concorrência com o grande branco, um predador que ainda é forte hoje, pode ter sido um fator que tirou o megalodonte de cena. Também salienta a ideia de que um predador não precisa ser o maior em tamanho para dominar um ecossistema.

Visitantes tiram foto na réplica da mandíbula de um megalodonte em exposição no Museu Americano de Artes Naturais, em Nova York (EUA)
Visitantes tiram foto na réplica da mandíbula de um megalodonte em exposição no Museu Americano de Artes Naturais, em Nova York (EUA) - An Rong Xu - 10.dez.21/The New York Times

Reconstruir as cadeias alimentares de oceanos antigos é uma tarefa difícil, disse Jeremy McCormack, geocientista no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, e autor do novo artigo.

Não podemos ver animais extintos se alimentando, ou configurar uma câmera para espionar como eles viviam. Mas existem outros métodos. Uma opção para deduzir o que um animal comia é examinar as moléculas que compõem seu corpo. Os níveis de isótopos de zinco nos dentes dos mamíferos atuais se correlacionam com sua posição na cadeia alimentar, como descobriram muitos outros estudos: quanto mais alto na cadeia alimentar um animal está, menor o valor de isótopos de zinco que ele mostra. Como os dentes fossilizam bem, a equipe se perguntou se o mesmo aconteceria se eles examinassem dentes de milhões de anos atrás.

Usando dentes de mais de uma centena de tubarões, extraídos de espécies vivas hoje e das que se foram há muito tempo, os pesquisadores realizaram testes para ver se os níveis de zinco mudavam à medida que os dentes envelheciam. Eles também confirmaram que nos tubarões atuais os valores dos isótopos de zinco refletem seu lugar no ecossistema —tubarões que comem peixes minúsculos têm valores mais altos, por exemplo, do que tubarões que comem baleias e estão mais acima na cadeia alimentar.

Um grande tubarão-branco nada pela costa da ilha de Guadalupe, no México
Um grande tubarão-branco nada pela costa da ilha de Guadalupe, no México - Benjamin Lowy - 12.nov.15/The New York Times

Os pesquisadores então consideraram a teia alimentar esboçada pelos números dos dentes antigos. Os resultados mostraram padrões intrigantes.

"Temos a mesma faixa de valores de isótopos de zinco em grandes tubarões-brancos, na mesma localidade, que os dos megalodontes", disse McCormack. "É superinteressante. Eles são obviamente muito diferentes em tamanho, mas isso implica que há uma sobreposição nas espécies que eles predam."

Ele pinta uma imagem do enorme tubarão deslizando, projetando uma sombra como um ônibus em sua busca por peixes desafortunados e, ao fundo, o grande branco, uma forma comparativamente diminuta na época, abocanhando a mesma presa para si.

Se o grande branco estava comendo os mesmos tipos de presas, então talvez os tubarões menores competissem com o megalodonte por comida. Nesse caso, eles podem ter contribuído para sua eventual queda, juntamente com possíveis alterações em outros aspectos do ecossistema, como o clima. É uma ideia que os cientistas aventaram no passado, mas não havia evidências geoquímicas para sustentar a hipótese, disse McCormack.

Comparação de um dente do extinto megalodonte (à esq.) com o de um grande tubarão-branco atual
Comparação de um dente do extinto megalodonte (à esq.) com o de um grande tubarão-branco atual - Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology/Handout via Reuters

À medida que os pesquisadores procuram montar a imagem dos ecossistemas de milhões de anos atrás —quem comia o que e onde—, uma medida como o valor do isótopo de zinco pode ajudar a preencher as lacunas, ele espera. Ainda é uma ideia nova usá-lo tanto tempo depois, mas talvez com mais dados de outras criaturas possa nos ajudar a entender o que aconteceu há tanto tempo, quando organismos como o megalodonte desapareceram do registro fóssil.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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