Nebulosa da Tarântula oferece visão deslumbrante do nascimento de estrelas

Localizada a cerca de 170 mil anos-luz da Terra, a nebulosa da Tarântula tem o nome formal de 30 Doradus

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Will Dunham
Washington | Reuters

Astrônomos puderam olhar um berçário de estrelas na nebulosa da Tarântula –uma nuvem colossal de gás e poeira vizinha de nossa galáxia— e ter um novo entendimento da dinâmica da formação de estrelas, ao mesmo tempo obtendo uma imagem deslumbrante do cosmos.

Pesquisadores disseram na quarta-feira que suas observações aumentaram o entendimento sobre a interação entre a força irresistível da gravidade, que impulsiona a formação de estrelas, e as quantidades imensas de energia que estrelas jovens e de massa muito grande injetam em seu ambiente vizinho, que podem inibir o nascimento de estrelas.

A nebulosa da Tarântula reside uma galáxia satélite da Via Láctea chamada Grande Nuvem de Magalhães. Ela é uma teia de estrelas, gás e poeira com diâmetro aproximado de 600 anos-luz. Um ano-luz é a distância percorrida pela luz em um ano, 9,5 trilhões de quilômetros.

Imagem mostra a região de formação de estrelas chamada de 30 Doradus, também conhecida como nebulosa da Tarântula; além de estrelas, é possível ver partes rosas que são nuvens de gás quente e partes avermelhadas e amareladas que apontam locais com gás denso e frio - ESO, Alma (ESO/NAOJ/NRAO)/Wong et al., ESO/M.-R. Cioni/VISTA Magellanic Cloud survey/Cambridge Astronomical Survey Unit/Divulgação via Reuters

Localizada a cerca de 170 mil anos-luz da Terra, a nebulosa da Tarântula tem o nome formal de 30 Doradus, em referência a um número de catálogo de objetos na direção da constelação Dorado.

Ela é chamada nebulosa da Tarântula porque parte de sua arquitetura tem a aparência de filamentos brilhantes de gás, poeira e estrelas que lembram as pernas de uma aranha. A composição gasosa da nebulosa é semelhante à do universo em uma fase anterior de sua história, sendo feita principalmente de hidrogênio e hélio.

O Observatório Europeu do Sul divulgou uma imagem da nebulosa da Tarântula mostrando nuvens finas de gás que podem ser resquícios de nuvens maiores que foram rasgadas pela energia desencadeada por estrelas jovens e de grande massa.

"Vemos estrelas se formando onde há muito gás e poeira disponível, e definitivamente há muito disso na nebulosa da Tarântula", disse o astrofísico Guido de Marchi, do Centro Europeu de Pesquisas e Tecnologia Espaciais da Agência Espacial Europeia, na Holanda, coautor da pesquisa publicada na Astrophysical Journal e apresentada numa reunião da American Astronomical Society.

As descobertas foram auxiliadas por observações feitas com o telescópio Alma (Atacama Large Millimeter Array), situado no Chile.

"As estrelas se formam quando nuvens de gás colapsam pela ação de sua própria gravidade e o gás vai ficando mais e mais denso. Essas nuvens se contraem e aquecem até que o núcleo está quente o suficiente para iniciar o motor estelar, um imenso reator nuclear", disse De Marchi.

"Mas sempre pensamos que quando estrelas de massa muito grande –mais de cem vezes a massa do Sol—começam a se formar, elas liberam tanta energia que isso impede a queda de mais gás, cortando a fonte de combustível para a formação de mais estrelas. As belas observações da nebulosa da Tarântula obtidas com o Alma agora mostram que, onde o gás é denso o suficiente, ele continua a cair, e novas estrelas podem continuar a se formar. Isso é interessante e é uma informação nova."

De Marchi estava se referindo a um fenômeno chamado feedback, em que estrelas jovens e de grande massa emitem grande quantidade de energia em seu ambiente local sob a forma de fótons e partículas de alta velocidade. A composição primordial da nebulosa fomentou a formação de estrelas especialmente grandes, algumas delas com massa 200 vezes superior ao do nosso Sol.

"A nebulosa da Tarântula é o ambiente de feedback mais extremo que podemos observar detalhadamente, porque abriga o exemplo mais próximo de um agrupamento de estrelas jovens e de massa grande", disse o astrofísico da Universidade de Illinois e autor principal do estudo, Tony Wong.

"Um dos grandes enigmas da astronomia é por que ainda conseguimos observar estrelas se formando hoje. Por que todo o gás disponível não colapsou numa grande explosão de formação estelar que ocorreu e terminou muito tempo atrás? Observações com o Alma podem lançar uma luz sobre o que está acontecendo nas profundezas das estrelas e nos ajudar a entender como a gravidade e o feedback competem por influência para controlar a formação de estrelas", ele acrescentou.

A beleza da nebulosa não passou despercebida dos cientistas.

"Pessoalmente, adoro a nebulosa da Tarântula por razões tanto científicas quanto estéticas", disse De Marchi. "É um panorama ímpar no céu. Já me perguntei muitas vezes como se pareceria a noite se estivéssemos num planeta orbitando uma de suas estrelas, com nuvens de cores brilhantes e fileiras gasosas atravessando o céu."

Tradução de Clara Allain

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