Descrição de chapéu The New York Times dinossauro

Cientistas tentam entender morte em massa de répteis do tamanho de baleias há 230 milhões de anos

Região nos EUA foi hábitat de ictiossauro Shonisaurus popularis

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Darren Incorvaia
The New York Times

O mistério assombrava os paleontólogos havia décadas: o que explicaria um caso de morte em massa fossilizada nas rochas do cânion West Union, em Nevada (centro-leste dos EUA)? Ainda mais misterioso: por que todas as vítimas são grandes répteis marinhos predadores, chamados ictiossauros, que nadavam nos mares enquanto os dinossauros andavam na Terra?

Uma equipe de pesquisadores diz em um artigo publicado na segunda-feira (2) na revista Current Biology que esse enigma em pedra finalmente foi resolvido.

O cemitério de répteis já foi um hábitat do ictiossauro Shonisaurus popularis, que tinha o tamanho de uma baleia. Cerca de 230 milhões de anos atrás, era "este oceano tropical raso", disse Randall Irmis, paleontólogo do Museu de História Natural de Utah e autor do estudo. "Agora estamos no meio da Grande Bacia, no alto deserto, no sopé das Montanhas Shoshone."

Ilustração retrata reconstrução de vida do ictiossauro Shonisaurus popularis, que nadou em oceano tropical raso que cobria o que hoje é o parque em Nevada - Gabriel Ugueto via The New York Times

O aglomerado de cadáveres mais famoso do cânion, um agrupamento de pelo menos sete esqueletos conhecido como Pedreira 2, pode ser visitado no Parque Estadual de Ictiossauros Berlin.

Os cientistas especulam sobre os ictiossauros da Pedreira 2 desde que foram escavados pela primeira vez, na década de 1950, por Charles Camp, paleontólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley. Mas Irmis e seus colegas descobriram em 2014 que outros agrupamentos assustadores ocorreram no cânion em diferentes pontos da história, abrangendo centenas de milhares de anos. Não foi apenas um caso de morte em massa, mas muitos, e todas as vítimas pareciam ser ictiossauros adultos.

Os pesquisadores usaram várias técnicas, incluindo varreduras em 3D que reconstruíram digitalmente os fósseis, para eliminar de forma metódica as hipóteses sobre como os animais gigantescos encontraram seu fim. O primeiro suspeito: casos de encalhe em massa, como vemos ocorrer hoje com baleias.

"Isso não corresponde à sedimentologia que encontramos", disse Nicholas Pyenson, paleontólogo do Museu Nacional de História Natural Smithsonian em Washington, D.C., e um dos autores do estudo. "Não há depósitos de praia, não há planícies de maré." Pelo contrário, disse ele, as rochas sugerem que a área estaria submersa em mais de 90 metros de água.

Cientistas com esqueleto fóssil de Shonisaurus popularis descoberto no Parque Estadual de Ictiossauros Berlin - Neil Kelley via The New York Times

Para descartar envenenamento ou asfixia devidos a, por exemplo, erupções vulcânicas, a equipe avaliou os níveis de mercúrio e oxigênio preservados na rocha e não encontrou nada suspeito. A única outra coisa estranha sobre o cânion era a falta de outras formas de vida preservadas, como peixes ou outros tipos de ictiossauros. Pyenson disse que encontraram apenas Shonisaurus e nada mais, nem mesmo presas que os répteis carnívoros poderiam ter comido.

Eles finalmente encontraram uma hipótese onde os detetives de fósseis menos esperavam –escondida nos armários empoeirados das coleções do museu.

Ao vasculhar espécimes antigos em busca de pistas, a equipe encontrou pequenos ossos de Shonisaurus do cânion que não poderiam pertencer a adultos, incluindo um embrião fóssil preso na caixa torácica de um adulto que o próprio Camp escavou pela primeira vez, mas nunca descreveu formalmente.

Mais trabalho de campo no local revelou mais material ósseo de ictiossauros embrionários e recém-nascidos. Em vez de um cemitério de morte em massa, o cânion parece ter servido como uma fonte de vida em massa: uma maternidade.

"Acho que era um lugar aonde ictiossauros gigantes iam para dar à luz", disse Pyenson, semelhante a como os gigantes oceânicos de hoje –baleias e tubarões– migram rotineiramente de um lugar onde se alimentam para outro onde dão cria.

Embora os oceanos fossem diferentes 230 milhões de anos atrás, os ictiossauros "provavelmente tinham o mesmo comportamento", disse ele.

Os animais não morreram por alguma catástrofe em massa, mas sim em um ritmo normal de várias causas, seus esqueletos se agrupando na morte porque é como eles se comportavam em vida.

Dente completo e mandíbulas parciais de Shonisaurus popularis no Museu de História Natural de Utah - Mark Johnston/Museu de História Natural de Utah/NYT

A ideia de que os ictiossauros viviam e viajavam em grupos como as baleias não é nova, mas "este é o primeiro estudo a realmente demonstrar isso de uma forma crível e comprovada", disse Erin Maxwell, paleontóloga do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, na Alemanha, que não participou do estudo. Maxwell espera que a equipe examine os ossos dos novos espécimes, especialmente os embriões e recém-nascidos, com mais minúcia.

Embora este caso esteja agora encerrado, como qualquer história de mistério pode ter sequências. "Há muito sobre a biologia de répteis do tamanho de baleias que ainda não sabemos", disse Pyenson. Isso inclui o maior mistério de todos: por que eles foram extintos há 88 milhões de anos, dezenas de milhões de anos antes dos dinossauros terrestres. Fique atento para ver se algum paleontólogo intrometido (e seu método científico irritante) resolve isso a seguir.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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