Descrição de chapéu The New York Times dinossauro

Crocodilo fêmea se reproduz sem contato com macho na Costa Rica

Inédito na espécie, processo já havia sido registrado em cobras, peixes e aves

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Veronique Greenwood
The New York Times

Em janeiro de 2018, uma fêmea de crocodilo num zoológico da Costa Rica pôs uma ninhada de ovos. Isso foi peculiar, porque fazia 16 anos que ela vivia isolada.

Embora os crocodilos possam botar ovos estéreis que não se desenvolvem, parte dessa ninhada parecia bastante normal. E um deles –numa reviravolta familiar para quem assistiu "Jurassic Park"– continuou a amadurecer numa incubadora. Nesse caso, o ovo acabou gerando um bebê crocodilo perfeitamente formado, mas natimorto.

Em um artigo publicado na quarta-feira (7) na revista Biology Letters, uma equipe de pesquisadores relata que o filhote de crocodilo era um partenogênico –produto de um parto virginal, contendo apenas material genético da mãe. Embora a partenogênese tenha sido identificada em criaturas tão diversas quanto cobras-rei, peixes-serra e condores da Califórnia, esta é a primeira vez que foi encontrada em crocodilos.

foto mostra crocodilo de frente, ele está com a boca aberta
Crocodilo no parque nacional Everglades, na Flórida, nos Estados Unidos - Divulgação - 7.jun.23/National Park Service via The New York Times

E devido à posição dos crocodilos na árvore da vida isso implica que pterossauros e dinossauros também podem ter sido capazes de tais proezas reprodutivas.

Como acontece um parto virginal? À medida que um óvulo amadurece no corpo da fêmea, ele se divide repetidamente para gerar um produto final com exatamente a metade dos genes necessários para criar um indivíduo. Três sacos celulares menores contendo cromossomos, conhecidos como corpos polares, são formados como subprodutos. Os corpos polares geralmente desaparecem.

Mas em vertebrados que podem realizar partenogênese, um corpo polar às vezes se funde com o óvulo, criando uma célula com o complemento necessário de cromossomos para formar um indivíduo.

É o que parece ter acontecido no caso do crocodilo, segundo Warren Booth, professor associado da Virginia Tech que estudou os ovos. Booth é um entomologista cujo foco principal são os percevejos, mas ele tem um extenso trabalho paralelo na identificação de partenogênese. O sequenciamento do genoma partenogenético do crocodilo sugere que seus cromossomos diferem dos da mãe em suas extremidades, onde houve uma pequena reorganização do DNA –um sinal revelador da fusão do corpo polar.

É exatamente o que acontece na partenogênese em pássaros, lagartos e cobras, disse Booth, sugerindo que esse grupo de animais herdou a capacidade de um ancestral comum. Mas os crocodilos evoluíram muito antes de vários outros animais partenogenéticos modernos, o que sugere possibilidades intrigantes sobre as criaturas intermediárias.

"O que isso nos diz é que muito provavelmente também acontecia com os pterossauros e dinossauros", disse Booth.

Por que os animais produzem partenogênicos? Embora alguns partenogênicos possam sobreviver até a idade adulta e acasalar, nem sempre são criaturas saudáveis, disse Booth. Mas a facilidade cada vez maior da análise de DNA, que permite identificar melhor os animais nascidos dessa forma, mostrou que eles não são tão raros.

"É muito mais difundido do que se pensa", disse ele.

É possível que a partenogênese dê a uma espécie a capacidade de sobreviver por longos períodos quando não há parceiro disponível. Um novo indivíduo, carregando basicamente os mesmos genes de seu progenitor, pode viver o suficiente para que um parceiro apareça, permitindo assim a reprodução sexuada, que tende a gerar descendentes mais resistentes.

Mas também é possível que a partenogênese seja simplesmente uma característica que não tem desvantagens suficientes para a evolução eliminá-la, disse Booth. Não é necessariamente uma resposta ao estresse ou mesmo à falta de parceiros.

Em 2020, cientistas descobriram que os lagartos podem acasalar e, em seguida, pôr ovos onde alguns são descendentes normais e outros são partenogênicos. Este é o palpite de Booth: é uma capacidade que pode ser ligada ou desligada, e talvez seja controlada por um único gene.

Então, os dinossauros fizeram isso, como sugere a descoberta da partenogênese em crocodilos? A partenogênese é melhor confirmada com a análise de DNA, processo que permitiu aos cientistas diferenciá-la da concepção atrasada, em que uma fêmea armazena esperma durante até seis anos antes de usá-lo para fertilizar óvulos. Sem a capacidade de recuperar o DNA de dinossauros e pterossauros, que não persiste em fósseis, não há certeza.

"Nunca poderemos provar que eles tinham essa capacidade", disse Booth. "Mas isto sugere que sim."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

Erramos: o texto foi alterado

A reprodução da fêmea de crocodilo sem contato com um macho aconteceu na Costa Rica, não nos Estados Unidos, como apontado incorretamente na versão anterior do título.

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