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Por que insetos são cruciais para vida na Terra

Representando 70% de todas as espécies de animais, os insetos são os rebites que mantêm o planeta funcionando

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Dave Goulson
BBC News Brasil

Vivemos em um planeta de insetos. Eles representam cerca de 70% de todas as espécies conhecidas na Terra e sua biomassa combinada é 16 vezes maior que a dos humanos.

Parede com dezenas de insetos grudados por colecionador
Os insetos representam cerca de 70% de todas as espécies animais conhecidas na Terra - Getty Images via BBC

Há 300 milhões de anos, libélulas gigantes com envergadura de 75 centímetros voavam entre as samambaias arbóreas. Hoje em dia, os insetos são extraordinariamente diversos, com uma enorme variedade de cores, formas e tamanhos.

Eles também desempenham um papel crucial na vida na Terra. Eles servem de alimento para muitos animais, incluindo a maioria dos pássaros, morcegos, lagartos, anfíbios e peixes de água doce.

Cerca de 80% das espécies de plantas selvagens do mundo também dependem de insetos para polinizá-las, assim como três quartos das plantas que cultivamos para alimentação. Não é exagero dizer que sem os insetos muitos de nós morreríamos de fome.

Mas muitos tipos de insetos em diferentes partes do mundo estão ameaçados. Embora medir as populações de insetos seja algo complexo, existem sinais preocupantes.

Um importante estudo de 2020 estimou que os insetos que vivem na terra estão a diminuir em cerca de 9% por década em todo o mundo.

Um estudo alemão descobriu que a biomassa de insetos voadores nas reservas naturais diminuiu alarmantes 76% entre 1989 e 2016. Nos Estados Unidos, as populações de borboleta-monarca diminuíram 80% neste século.

Algumas espécies no Reino Unido, como a borboleta-vírgula e as borboletas-malhadinhas, estão contrariando a tendência. Mas de maneira geral, a distribuição geográfica global das borboletas no Reino Unido diminuiu, em média, 42% desde 1976.

As espécies invasoras também estão sofrendo. Ratos se alimentaram da tesourinha de Santa Helena, um tipo de lacraia, até levar a espécie à extinção e quase exterminaram o weta gigante da Nova Zelândia, um tipo de gafanhoto gigante.

A poluição luminosa também representa um problema, pois atrai as mariposas e as condena à morte e perturba o ciclo de vida dos insetos. Também desorienta alguns besouros que navegam usando a luz da Via Láctea.

Libélula verde sobre uma folha num lago
Há 300 milhões de anos, as libélulas eram gigantes; hoje, elas são extraordinariamente diversas em cores, formas e tamanhos - Getty Images via BBC

'Guerra contra a natureza'

Além de tudo isso, os insetos têm agora que lidar com as mudanças climáticas. Alguns insetos mais adaptáveis, como os mosquitos, as baratas e as moscas domésticas, se beneficiarão de temperaturas mais altas e de mais chuva. Mas a maioria sofrerá.

Zangões estão desaparecendo de seus habitats mais ao sul, superaquecendo em seus corpos peludos à medida que o clima esquenta. Secas, inundações e incêndios florestais também podem devastar as populações já ameaçadas.

Em 1962, a bióloga americana Rachel Carson publicou o livro "Silent Spring" (Primavera Silenciosa, em tradução literal para o português), alertando que estávamos causando danos terríveis ao nosso planeta.

Ela escreveu: "O homem é parte da natureza" e a sua guerra contra a natureza "é inevitavelmente uma guerra contra si mesmo".

Mas a previsão de Carson era apenas o começo. Desde então, os habitats de vida selvagem ricos em insetos foram destruídos em grande escala. Os solos foram degradados e os rios, obstruídos com lodo, poluídos ou drenados.

A agricultura, tão dependente dos insetos para a polinização, é responsável por grande parte do seu declínio. Estima-se que 4 milhões de toneladas de pesticidas sejam lançadas no meio ambiente todos os anos.

O weta é considerado por muitos o maior e mais pesado inseto do mundo
O weta é considerado por muitos o maior e mais pesado inseto do mundo - Getty Images via BBC

Então, o que podemos fazer se quisermos proteger nossos insetos?

A resposta mais simples está em reestruturar jardins e varandas, plantando flores silvestres e arbustos nativos, reduzindo o corte da relva e encontrando alternativas aos pesticidas.

Mas as ações individuais não serão suficientes. Imagine cidades verdes repletas de árvores, hortas e lagos, todas livres de pesticidas e cheias de vida. O movimento para uma agricultura sustentável para insetos e toda a natureza está crescendo, mas precisa de muito mais apoio, tanto por parte de governos como de consumidores.

Ainda não é tarde demais. A maioria das espécies de insetos ameaçadas ainda não foi extinta e pode se recuperar rapidamente se for protegida.

O biólogo americano Paul Ehrlich comparou a perda de espécies ao desprendimento aleatório de rebites da asa de um avião. Remova um ou dois e o avião provavelmente ficará bem. Remova dez, 20 ou 50 e, em algum momento, ocorrerá uma falha catastrófica e o avião cairá do céu.

Os insetos são os rebites que mantêm o planeta funcionando. Quantos podem ser removidos com segurança do avião antes que ele caia?

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