Descrição de chapéu Financial Times Estados Unidos

Ratos mostram poder de imaginação semelhante aos humanos em pesquisa neural

Descobertas podem impulsionar desenvolvimento de tecnologias médicas como interfaces cérebro-máquina

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Michael Peel
Londres | Financial Times

Ratos podem imaginar lugares onde não estão e objetos que não podem ver, segundo uma pesquisa. O achado sugere que roedores inteligentes evocados em filmes de Hollywood, como "Ratatouille", podem ser menos fantasiosos do que parece.

Análises de realidade virtual da atividade cerebral desses animais mostraram que eles desenvolveram a ideia de ir a locais previamente visitados e mover itens que reconheciam de uma área para outra, conforme o artigo publicado na revista Science no início deste mês.

A pesquisa conduzida por especialistas do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos, revela a sofisticação mental dos animais e promete impulsionar o desenvolvimento na área de neuroprótese, ou seja, o uso das funções cerebrais para controlar dispositivos como membros artificiais, braços robóticos ou implantes auditivos.

"Imaginar é uma das incríveis coisas que os humanos podem fazer", disse Albert Lee, um dos autores do artigo. "Agora descobrimos que os animais também podem fazer isso."

Pesquisadora segura rato em universidade - Ryan M. Kelly/AFP

O trabalho utilizou experimentos elaborados pelo autor principal, Chongxi Lai, e outros para focar o hipocampo, a área do cérebro ligada à memória espacial, imaginação e aprendizado.

Os pesquisadores utilizaram uma interface cérebro-máquina para medir a atividade elétrica do hipocampo enquanto os ratos percorriam uma esteira esférica em direção a uma recompensa. A equipe, então, desconectou a esteira para ver se os roedores repetiriam os padrões cerebrais previamente observados enquanto permaneciam parados.

Um teste —apelidado de Jumper em referência a um filme de 2008 que apresentava um personagem principal que se teletransportar— conectou os ratos a uma tela de realidade virtual para mostrar como pensavam em navegar em direção aos seus objetivos.

Um segundo teste —chamado Jedi em referência aos cavaleiros que controlam mentes nos filmes Star Wars— investigou os padrões cerebrais que correspondiam aos roedores imaginando mover um objeto que não estava à vista.

Os ratos foram capazes de imaginar as ações necessárias para alcançar seus objetivos, descobriram os pesquisadores. Os roedores provaram ser capazes de fixar seus pensamentos em um local específico por vários segundos, da mesma forma que os humanos fazem ao se lembrar de uma experiência anterior ou imaginar um evento futuro.

As descobertas sobre a atividade do hipocampo oferecem pistas sobre a "riqueza de nossas vidas internas", escreveram os pesquisadores do HHMI, sediado em Maryland.

A pesquisa com ratos representa uma "expansão emocionante" no uso de interfaces "cérebro-máquina", de acordo com Michael Coulter, da Universidade da Califórnia, e Caleb Kemere, da Universidade Rice no Texas, que não estiveram envolvidos na pesquisa.

Em um comentário publicado separadamente na revista Science, eles afirmaram que os experimentos forneceram uma nova ferramenta para investigar "mecanismos de nível de circuito da navegação mental e imaginação espacial".

Embora o poder imaginativo dos ratos seja menos sofisticado do que o do herói roedor de "Ratatouille", enquanto ele luta para se tornar um chef de primeira classe em Paris, as descobertas ajudarão a desenvolver aplicações práticas relacionadas à mente humana.

"Eu não vi Ratatouille, mas trabalhei com ratos por muito tempo e eles parecem estar focados e pensando", disse Lee. "Eles são bastante complexos e têm principalmente as mesmas áreas cerebrais que os humanos têm."

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