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Maior iceberg do mundo que se soltou da Antártida tem quase 1 trilhão de toneladas

Cientistas utilizam um satélite de radar para medir o maior iceberg do mundo

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BBC News Brasil

Os cientistas agora têm números precisos para descrever a verdadeira magnitude do maior iceberg do mundo, o A23a.

Medições por satélite mostram que o bloco congelado possui uma espessura média total um pouco acima de 280 metros.

Juntamente com a área conhecida de 3.900 km², isso resulta em um volume de aproximadamente 1.100 quilômetros cúbicos e uma massa ligeiramente abaixo de um trilhão de toneladas.

O iceberg, que se desprendeu da costa da Antártida em 1986, está prestes a se afastar do continente Branco.

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A23a perdeu gradualmente massa até finalmente se libertar e começar a se movimentar - Bas/T. Gossman/M. Gascoynec/C. Grey

Os pesquisadores afirmam que ele atingiu um ponto crítico em sua jornada, e as próximas semanas provavelmente determinarão sua trajetória futura pelo oceano austral.

Para contextualizar os novos dados de espessura, o maior arranha-céu do Brasil, a One Tower, em Balenário Camboriú, tem 290 metros de altura —10 a mais do que o iceberg.

No entanto, A23a também tem mais que o dobro da área do município de São Paulo, com um perfil semelhante ao de um cartão de crédito.

As medições de A23a provêm da missão CryoSat-2 da Agência Espacial Europeia.

A veterana espaçonave carrega um altímetro de radar capaz de detectar quanto da massa de um iceberg está acima da linha d'água.

Utilizando informações sobre a densidade do gelo, é possível determinar quanto deve estar submerso.

"Satélites altimétricos como o CryoSat-2, que medem a distância até a superfície do iceberg e até a superfície do mar, nos permitem monitorar a espessura do iceberg do espaço", disse a Anne Braakmann-Folgmann, da Universidade de Tromsø - Universidade Ártica da Noruega, à BBC News.

"Eles também nos possibilitam observar o afinamento do iceberg à medida que ele é exposto a águas oceânicas mais quentes.

"E, junto com o conhecimento da topografia do leito do mar, sabemos onde um iceberg irá encalhar ou quando ele afinou o suficiente para ser liberado novamente."

Nascido em uma quebra em massa de icebergs da Plataforma de Gelo Filchner, no sul do Mar de Weddell, o A23a ficou quase imediatamente preso em lamas rasas do fundo para se tornar uma "ilha de gelo" por mais de três décadas. E agora, os dados do CryoSat podem explicar o motivo.

O iceberg não é um bloco uniforme —algumas partes são mais espessas do que outras.

O CryoSat indica que uma seção em particular possui uma quilha muito profunda, que, em 2018, tinha um calado - a porção submersa de um iceberg - de quase 350 metros.

E é essa seção que ancorou A23a por tanto tempo.

As imagens de satélite até mostram as fendas superficiais que se abriram diretamente acima da quilha como resultado da violenta colisão com o leito do mar.

E nos anos que se seguiram, A23a perdeu gradualmente massa até finalmente se libertar e começar a se movimentar.

"Na última década, observamos uma diminuição constante de 2,5 metros por ano na espessura, o que é esperado dadas as temperaturas da água no Mar de Weddell", afirmou Andy Ridout, da University College London e do Centro de Observação e Modelagem Polar do Conselho de Pesquisa de Ambiente Natural.

O A23a agora alcançou a ponta da Península Antártica, onde há uma convergência de várias correntes de água de movimento rápido que giram no sentido horário ao redor do continente.

Como ele vai interagir com essas correntes e com os ventos predominantes naquela parte do mundo determinará para onde o gigante se dirigirá em seguida.

No entanto, espera-se que siga uma rota conhecida como "beco dos icebergs", apontando na direção do território britânico ultramarino de Geórgia do Sul.

Os cientistas acompanharão seu progresso com interesse.

Icebergs tão grandes exercem uma influência profunda em seu ambiente.

"Eles são responsáveis por uma mistura muito profunda da água do mar", explicou Mike Meredith, do British Antarctic Survey, à BBC News.

"Eles agitam as águas oceânicas, trazendo nutrientes para a superfície e, é claro, também liberam muita poeira.

"Tudo isso fertilizará o oceano —frequentemente, veremos explosões de fitoplâncton em seu rastro."

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