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Poluição torna cheiro de flores menos atraente para insetos polinizadores

Pesquisa sugere que compostos interferem no odor e reduzem visita de mariposas

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Emily Anthes
The New York Times

Os danos que a poluição do ar pode causar são amplos e bem conhecidos. Produtos químicos gerados por atividades humanas podem prender o calor na atmosfera, alterar a química dos oceanos e prejudicar a saúde humana.

Agora, um novo estudo sugere que a poluição do ar também pode tornar as flores menos atraentes para os insetos polinizadores. Compostos chamados radicais nitrato, que podem ser abundantes no ar urbano noturno, degradam severamente o odor emitido pela Oenothera pallida, reduzindo as visitas de mariposas polinizadoras, relataram pesquisadores na revista Science neste mês.

Mariposa sobre flor
Hyles lineata, espécie de mariposa, alimentando-se - Wikimedia commons

Essa poluição sensorial pode ter efeitos de amplo alcance, interferindo na reprodução das plantas e diminuindo a produção de frutas que alimentam muitas espécies, incluindo os seres humanos. Também pode ameaçar os polinizadores, que dependem do néctar das flores para se sustentar e já estão enfrentando declínios globais.

"Nos preocupamos muito com a exposição dos seres humanos à poluição do ar, mas há todo um sistema de vida que também está exposto aos mesmos poluentes", disse Joel Thornton, químico atmosférico da Universidade de Washington e autor do novo estudo. "Estamos realmente descobrindo quão profundos são os impactos da poluição do ar."

O projeto foi liderado por Thornton; seu colega Jeff Riffell, neurobiólogo sensorial e ecologista da Universidade de Washington; e seu estudante de doutorado, Jeremy Chan, que agora é pesquisador na Universidade de Nápoles, na Itália.

O estudo se concentra na Oenothera pallida, uma planta com flores delicadas que se abrem à noite. Seus principais polinizadores incluem mariposas polinizadoras, que têm antenas extremamente sensíveis para detectar odores. "Eles são tão bons quanto um cachorro em termos de sensibilidade química", disse Riffell.

O odor de uma flor é um buquê olfativo complexo que contém muitos compostos químicos. Para identificar os ingredientes no odor característico da Oenothera pallida, os cientistas colocaram sacos plásticos sobre as flores, capturando amostras do ar perfumado. Quando a equipe analisou essas amostras no laboratório, identificou 22 componentes químicos distintos.

Os cientistas então registraram a atividade elétrica das antenas das mariposas quando elas foram expostas a esses compostos odoríferos. Eles descobriram que as mariposas eram especialmente sensíveis a um grupo de compostos chamados monoterpenos, que também ajudam a dar às coníferas seu cheiro fresco.

Os pesquisadores usaram esses aromas atraentes para criar seu próprio odor simulado de Oenothera pallida. Em seguida, adicionaram ozônio e radicais nitrato, substâncias que podem se formar quando poluentes produzidos pela combustão de combustíveis fósseis entram na atmosfera. O ozônio, que se forma na presença de luz solar, é abundante durante o dia, enquanto os radicais nitrato, que são degradados pela luz solar, são mais dominantes à noite.

Os cientistas adicionaram ozônio ao odor da Oenothera pallida primeiro e observaram alguma degradação química, com concentrações de dois monoterpenos-chave diminuindo em cerca de 30%. Em seguida, adicionaram radicais nitrato à mistura, o que se mostrou muito mais prejudicial, reduzindo esses atrativos-chave para as mariposas em até 84% em comparação com seus níveis originais. Eles estavam "quase completamente desaparecidos", disse Thornton.

Para avaliar os efeitos em duas espécies de mariposas polinizadoras, os cientistas posicionaram uma flor falsa, emitindo o odor simulado de Oenothera pallida, em uma extremidade de um túnel de vento. As mariposas liberadas na outra extremidade frequentemente encontravam o caminho até a flor.

Mas, quando a flor falsa emitia uma fragrância degradada pelos radicais nitrato, as mariposas vacilavam. A taxa de visitação da flor para a Manduca sexta diminuiu em 50%, enquanto as Hyles lineata não visitaram mais a flor. A adição apenas de ozônio não teve efeito sobre o comportamento das mariposas, descobriram os pesquisadores.

Mariposa
Manduca sexta, espécie de Mariposa - Wikimedia commons

Os cientistas replicaram essas descobertas na natureza, colocando flores artificiais em plantas de Oenothera pallida. Flores que emitiam uma fragrância degradada pela poluição receberam 70% menos visitas de mariposas polinizadoras ao longo de uma noite do que aquelas que emitiam um odor intacto, descobriram os pesquisadores. Essa queda reduziria a polinização da Oenothera pallida o suficiente para diminuir significativamente a produção de frutas, calcularam. "O ambiente químico desempenha um papel realmente profundo na formação dessas comunidades ecológicas", disse Riffell.

Os pesquisadores acreditam que o problema se estende muito além da mariposa e da Oenothera pallida. Muitos polinizadores são sensíveis aos monoterpenos, que são comuns nos odores florais. Usando modelagem computacional, os pesquisadores calcularam que em muitas cidades ao redor do mundo, a poluição reduziu as distâncias de detecção de odor em mais de 75% desde a era pré-industrial.

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