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Pasteur em SP vai estudar minicérebros com zika para ver ação neurológica do vírus

Pesquisas vão procurar entender efeitos no neurodesenvolvimento de patógeno e também comprometimento cerebral pelo envelhecimento

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São Paulo

Entre as linhas de pesquisa que devem ser estudadas no Institut Pasteur de São Paulo, inaugurado oficialmente nesta quarta-feira (27) em cerimônia com a presença do presidente da França, Emmanuel Macron, estão os efeitos de patógenos no desenvolvimento cerebral, como o zika vírus.

Para isso, os pesquisadores vão infectar minicérebros com amostras do vírus com luminescência, trazidos da sede do instituto, em Paris. "A descoberta do mecanismo da interação de um microrganismo com o cérebro pode levar ao potencial de desenvolvimento de novas drogas e terapias", afirma a imunologista Paola Minóprio, diretora do Institut Pasteur em São Paulo.

Pesquisador realiza experimento em laboratório do Institut Pasteur de São Paulo, no campus Butantã da USP, zona oeste da capital - Zanone Fraissat/Folhapress

Segundo ela, o custo de produção desse tipo de tecnologia no Brasil é muito caro. Neste sentido, ter uma unidade do renomado centro de pesquisa em São Paulo facilita não só no envio de amostras mas também na reprodução dessas tecnologias.

O Institut Pasteur de São Paulo está localizado no campus Butantã, da USP (Universidade de São Paulo), na zona oeste da capital. Nele, há 17 laboratórios, quatro dos quais com nível de biossegurança nível 3.

A criação do convênio entre o Institut Pasteur e a USP ocorreu em março de 2023, em cerimônia celebrada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, Vahan Agopyan, o presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, e o reitor da USP e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Carlos Gilberto Carlotti Junior, na sede do Institut Pasteur em Paris.

Antes disso, desde 2019, por meio da plataforma científica Pasteur-USP, os dois países colaboraram em mais de 90 produções científicas. A consolidação dos laços entre os parceiros científicos e a transformação da plataforma científica em Institut Pasteur de São Paulo, uma unidade própria, aproxima ainda mais os dois países.

Na noite desta quarta (27), Macron agradeceu a toda a colaboração e se mostrou entusiasmado com as novas cooperações que podem sair da unidade Pasteur de São Paulo. "Obrigado por todo o trabalho realizado, vocês já não são mais um parceiro, mas sim uma unidade completa do Pasteur que vai ter autonomia na pesquisa desenvolvida aqui. A ciência produzida aqui é algo maior do que a cooperação França-Brasil, ela vai produzir conhecimento científico que vai ultrapassar gerações e se tornar um ganho humanitário comum", disse o presidente francês.

Minicérebros são reproduções do órgão criados em laboratório e que mimetizam as características tridimensionais de um órgão real. Eles ajudam os cientistas a entenderem, por exemplo, efeitos de drogas e outros mecanismos bioquímicos sem a necessidade de utilizar cobaias animais ou células in vitro.

A pesquisa é coordenada pela virologista Patricia Braga, professora do departamento de microbiologia do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) da USP, que desenvolve os organoides a partir de células-tronco.

Além dos efeitos no neurodesenvolvimento de infecções por vírus, os cientistas também pretendem estudar efeitos de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, e as causas genéticas e ambientais envolvidas no transtorno do espectro do autismo.

Segundo Minóprio, algumas infecções virais podem potencializar os sintomas da condição autista, por isso estudá-los será essencial. "São doenças que, ao longo do tempo, podem afetar o organismo [degenerativas], como Alzheimer, e outras que não são doenças, como o autismo, mas têm efeito no sistema nervoso cerebral. Então decidimos concentrar a nossa atividade em doenças tropicais emergentes e reemergentes que possam levar ao comprometimento cerebral, seja ele durante o neurodesenvolvimento ou no envelhecimento", afirma ela.

O Institut Pasteur é uma organização privada, sem fins lucrativos, voltada à pesquisa científica e ao desenvolvimento de vacinas e terapias para a prevenção e combate de doenças infecciosas e não infecciosas, com foco em saúde pública. Foi fundado em 1888 na capital francesa e tem atualmente 32 unidades associadas à rede Pasteur em todo o mundo.

Além da unidade na USP, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro, e o Instituto Butantan, em São Paulo, também são parceiros da rede Pasteur no Brasil.

A pesquisadora destaca ainda a importância do estudo de doenças tropicais negligenciadas, como a doença de Chagas. "Vamos também procurar desenvolver minicérebros bovinos para ver como o protozoário atua também nesses animais."

Para Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP, a criação da unidade na USP põe o Brasil estrategicamente no estudo de outras doenças infecciosas e vírus, inclusive para a preparação de pandemias futuras. "A próxima pandemia ocorrerá, só não sabemos quando e onde será, mas assim que ela ocorrer nós estaremos preparados, dentro de uma rede de 32 unidades de pesquisa globais, para ter uma resposta à altura, inclusive com o potencial de produção e desenvolvimento de vacinas."

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