Descrição de chapéu The New York Times

Usando o olfato, algumas cobras podem se distinguir de outras

Pesquisadores aplicam odores em diferentes animais para avaliar seu comportamento

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Asher Elbein
The New York Times

Diga as palavras autorreconhecimento animal e muitos cientistas pensarão em chimpanzés, corvos e elefantes.

Pela primeira vez, pesquisadores —utilizando uma abordagem inovadora no teste do espelho— encontraram evidências de que as "garter snakes", nome em inglês para um gênero (Thamnophis) de cobras comuns do Hemisfério Norte, podem se distinguir de outras, usando não a visão, mas o olfato.

"Os répteis são massivamente subestudados", disse Noam Miller, psicólogo comparativo da Universidade Wilfrid Laurier em Ontário, Canadá, e autor do artigo, publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B. "Existe um viés por aí de que eles são animais chatos, não muito cognitivos, e isso está completamente errado. Essa é uma das razões pelas quais ficamos muito interessados em estudá-los e mostrar as coisas cognitivas complexas que eles podem fazer."

Cobra com a língua para fora
Cientistas mediram o interesse das cobras em almofadas que foram esfregadas com amostras do próprio cheiro, incluindo algumas adulteradas com azeite, avaliando por quanto tempo elas balançavam a língua para saborear o ar; mais tempo indicando interesse sustentado - Noam Miller via The New York Times

Um sinal tradicional de cognição animal tem sido geralmente o teste do espelho, disse Miller, ou se um animal pode aprender a se reconhecer em uma superfície reflexiva, um traço pensado para ser um proxy para uma inteligência mais sofisticada. Utilizado por pesquisadores de primatas na década de 1970, o teste geralmente envolve marcar um animal com tinta em algum lugar visível apenas no espelho e esperar para ver se ele investiga a mudança.

Testes semelhantes foram feitos com uma variedade de espécies desde então: elefantes (passaram), pandas (falharam), galos (passaram) e até peixes como o bodião-limpador (passaram).

Mas o teste do espelho é direcionado para animais que são principalmente visuais. Muitas espécies —como cobras— dependem principalmente do seu olfato, disse Miller. Em 2017, pesquisadores desenvolveram uma versão olfativa do teste para cães. (Eles passaram.)

Duas espécies diferentes de cobras foram testadas no novo estudo. Em um canto: cobras garter do leste da América do Norte, predadoras de insetos e peixes com uma vida social surpreendentemente complexa. No outro, pítons-bolas africanas, cobras constritoras que pegam suas presas em emboscadas.

Cobras, como humanos, têm óleos em sua pele que deixam um rastro de cheiro. A equipe esfregou almofadas removedoras de maquiagem ao longo das partes inferiores das duas espécies para coletar amostras de cheiro, algumas das quais foram adulteradas com azeite.

Eles colocaram as almofadas nas extremidades de caixas longas e estreitas e ofereceram aos animais várias escolhas: entre seu próprio odor e azeite puro; seu próprio odor modificado com azeite; e os odores modificados ou não modificados de outras cobras da mesma espécie.

A equipe mediu o interesse das cobras avaliando por quanto tempo elas esticavam suas línguas para sentir o ar —mais tempo indicava interesse sustentado, disse ele. As pítons-bolas não mostraram distinção aparente. Mas as cobras garter focaram seu próprio cheiro adulterado e ignoraram variações nos cheiros de outras cobras.

"Essencialmente, parece que, se os outros cheiram estranho, elas não se importam", disse Miller. "Se elas cheiram estranho, isso é algo que elas precisam investigar."

Pesquisas recentes descobriram que as cobras garter do leste são notavelmente sociais, reunindo-se em grandes grupos para hibernar no inverno e formando redes —completas com "amigos"— durante sua temporada ativa.

Como uma espécie mais gregária, elas podem estar mais sintonizadas com a necessidade de se distinguir dos outros. Uma possível explicação de como o autorreconhecimento funciona é a capacidade de reconhecer a diferença entre o próprio e o não próprio, segundo Miller. "Isso então o vincula a comportamentos sociais."

É difícil dizer, no entanto, se a falha das pítons-bolas em passar no teste se deve a uma falta de habilidade ou a uma falta de interesse, acrescentou. Pesquisas contínuas em laboratório sugerem que as pítons-bolas, embora mais solitárias, são socialmente complexas.

Mas com mais de 5.000 espécies de cobras vivas habitando uma variedade de ambientes diferentes, acrescentou ele, a família como um todo oferece uma ampla gama de oportunidades para descobrir quais ecologias e comportamentos podem levar os animais a se distinguirem ativamente.

Testes futuros podem se concentrar em espécies arborícolas ou em víboras como cascavéis, que pesquisas recentes sugeriram preferir se abrigar com parentes e ficar menos estressadas perto de outras cobras. No entanto, a cascavel também é "mais difícil de trabalhar em um laboratório cheio de universitários", disse Miller.

"De muitas maneiras, acho que seu paradigma experimental é mais poderoso do que os testes do espelho", disse Rulon Clark, biólogo da Universidade Estadual de San Diego que pesquisou o comportamento social de cobras e não esteve envolvido no estudo. "Uma superfície de espelho altamente reflexiva não tem muitos análogos ecológicos. Mas encontrar e entender a importância de pistas químicas deixadas por você e por seus congêneres é provavelmente um aspecto profundamente importante da história natural desses animais."

"Nossa pesquisa relaciona como as cobras se experimentam com como elas experimentam o mundo ao seu redor", disse Morgan Skinner, biólogo da Universidade Wilfrid Laurier e autor do estudo. "Também demonstra que, quando você pode fazer isso de forma eficaz em um experimento, pode encontrar capacidades cognitivas que alguns podem achar surpreendentes.

"Pouco se sabe sobre as estruturas sociais de cobras e outros répteis", afirmou Miller. "E, se quisermos entender os blocos fundamentais da estrutura social, precisamos estudar uma gama mais ampla de espécies, em vez de apenas ratos e pombos o tempo todo."

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