Pedido de patente terá de indicar uso de conhecimento de povos indígenas

Tratado aprovado nesta sexta na ONU também exige a divulgação da origem de recursos genéticos

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Agnès Pedrero
AFP

Mais de 190 países aprovaram nesta sexta-feira (24) um tratado histórico sobre patentes para atuar contra a biopirataria, a exploração de recursos genéticos e conhecimentos tradicionais dos povos indígenas. O acordo que era negociado havia mais de 20 anos.

Depois de quase duas semanas de negociações, os Estados "aprovaram um novo tratado inovador sobre a propriedade intelectual, os recursos genéticos e os conhecimentos tradicionais associados, conseguindo assim um avanço histórico que encerra décadas de negociações", afirmou a ONU em um comunicado.

O tratado obrigará os demandantes de patentes a divulgar a origem de seus recursos genéticos e os conhecimentos tradicionais utilizados no trabalho.

Indígenas guaranis do Brasil e Paraguai pedem reparação pelo uso da stevia, planta usada como adoçante natural e encontrada dentro de territórios sagrados - Jorge Adorno/Reuters

O objetivo é atuar contra a biopirataria e garantir que uma invenção seja realmente inovadora e, também, que os países e comunidades locais potencialmente afetados autorizaram o uso de seus recursos genéticos, como espécies de plantas, e de seus conhecimentos tradicionais.

Os países membros da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), uma agência da ONU, estavam reunidos desde o último dia 13 na cidade suíça de Genebra para concluir mais de duas décadas de negociações.

"Aguardávamos este momento havia 25 anos", declarou o presidente das negociações, o embaixador brasileiro Guilherme de Aguiar Patriota, depois de validar a aprovação por consenso do tratado.

Este é o primeiro tratado da OMPI sobre propriedade intelectual, recursos genéticos e os conhecimentos tradicionais. Também é o primeiro a incluir dispositivos específicos para os povos indígenas e as comunidades locais, destacou a agência das Nações Unidas.

"Demonstramos desta maneira que o sistema de propriedade intelectual pode continuar incentivando a inovação, ao mesmo tempo que evolui de forma mais inclusiva, respondendo às necessidades de todos os países e de suas comunidades", afirmou o diretor-geral da OMPI, Daren Tang.

"Hoje, nós entramos para a história em muito sentidos", acrescentou.

Equilíbrio justo

"Recebemos com satisfação o resultado, que estabelece um equilíbrio justo entre a promoção da inovação e melhorar a transparência do sistema de patentes", reagiu o representante dos Países Baixos, que falou em nome de várias nações ocidentais.

O acordo não estava garantido: "Tivemos alguns altos e baixos", disse.

A transparência exigida pelo tratado deve reforçar a implementação do Protocolo de Nagoya, que prevê que as pessoas que fornecem recursos genéticos e conhecimentos tradicionais usufruam de benefícios, não necessariamente monetários, por sua utilização.

"Não chegaria ao ponto de dizer que (o tratado) é revolucionário", afirmou à AFP Antony Scott Taubman, que criou a divisão de conhecimentos tradicionais da OMPI em 2001.

Porém permite estipular que um pedido de patente implica que o demandante tem responsabilidades e que "não é um procedimento puramente técnico", completou.

Os recursos genéticos, como micro-organismos, espécies animais e vegetais, ou sequências genéticas, são cada vez mais utilizados em várias pesquisas e invenções, como sementes e medicamentos que permitiram avanços consideráveis na saúde, no clima ou na segurança alimentar, segundo a ONU.

Mais de 30 países já exigem a divulgação destas informações, em sua maioria nações em desenvolvimento, como China, Brasil, Índia ou África do Sul, mas também europeus como França, Alemanha e Suíça.

Mas as regras variam de acordo com o país e nem sempre são obrigatórias.

Há dois anos, os países decidiram convocar uma conferência com o objetivo de concluir um acordo até 2024.

Apenas Estados Unidos e Japão se desvincularam oficialmente da decisão, mas não expressaram oposição ao consenso.

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