Quando se esperava que 2020 já tivesse apresentado todas suas armas, dramas e surpresas, o ano apronta mais uma antes de terminar: o xadrez voltou à moda.
A motivação é "O Gambito da Rainha", que bate recordes de audiência na Netflix. Contando a história de uma adolescente órfã com aptidão extraordinária para mexer as peças, a série é boa. Mas o incrível é que, desde seu lançamento em outubro, tenha provocado tantas pesquisas no Google sobre aquelas 32 imagens esculpidas que se deslocam por 64 casas pretas e brancas. As plataformas para partidas ao vivo registram milhões de horas de visualização por pessoas que se distraem com o jogo em meio à pandemia.
Movimentos lindos, o bispo em diagonal, o cavalo em L. Inventado em algum ponto da Índia há mais de 1.500 anos, o xadrez influenciou culturas no mundo inteiro. A literatura, em especial, o adora. Para ficar em um único exemplo, leia o romance "A Defesa Lujin", de Vladimir Nabokov, que relata as aventuras de um menino-prodígio cuja existência acaba se reduzindo a um grande tabuleiro.
Na ciência, o xadrez foi usado como base para o desenvolvimento da inteligência artificial. Em 1997, uma máquina derrotou um homem pela primeira vez. O fiasco do campeão Kasparov diante do supercomputador Deep Blue —capaz de analisar 200 milhões de posições por segundo— abalou a popularidade do jogo e arranhou a mitologia em torno dos excêntricos enxadristas: o cubano Capablanca, o maluquete Bobby Fischer, os vilões russos Alekhine, Spassky, Karpov.
E Henrique Mecking. Não consigo escrever o nome do grande mestre brasileiro sem lembrar a vez em que fui assistir "Um Convidado Bem Trapalhão", o filme com Peter Sellers. O cinema vinha abaixo, escangalhando-se de rir. Menos o cara ao meu lado. Quando as luzes se acenderam, reconheci, pelos óculos e pela calva, o Mequinho.
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