Todas as vezes que ligo a TV, entro num supermercado, vejo uma imagem do plenário do Congresso ou simplesmente resolvo dar uma caminhada pela rua, em Brasília, reafirmo a convicção de que minha cor não é o Brasil. Por quê? Porque o Brasil é um país racista. Simples assim.
Os locais onde são decididos os destinos da nação, onde há comida na mesa, moradia digna, acesso à saúde e educação de qualidade, trabalho decente, dinheiro para aproveitar liquidações e fazer viagens de férias estão muito longe de ser predominantemente negros.
Embora 56% da população brasileira seja preta ou parda, a maioria negra vive uma realidade apartada de oportunidades e indigna —inclusive sem acesso a saneamento básico. Entre os empregados, dados da Pnad Contínua do IBGE (2018) indicaram, por exemplo, que os negros ganhavam 57,5% do que recebiam os brancos.
Que fique claro: isso não guarda relação com dedicação ou merecimento, força de vontade para superar as barreiras —que, acreditem, são muitas. Tem a ver com um projeto político estruturado há séculos para alijar direitos à população negra.
O lado bom é que estamos avançando. Como diz o professor Hélio Santos, presidente do conselho da Oxfam Brasil e do Instituto Brasileiro de Diversidade, "é a lei da ação e da reação, que pode ser aplicada ao campo social. Fico feliz toda vez que vejo uma pessoa negra se destacando, mas também fico certo de que há milhares que estranham o que me agrada."
Serve de explicação para o fato de ainda haver quem defenda a "democracia racial" brasileira, mito que só contribui para a perpetuação das mazelas que caracterizam nosso país desde os tempos de colônia e está intrinsecamente relacionado à herança escravocrata.
A luta antirracista deveria ser abraçada por todos, independentemente da etnia, por se tratar de uma causa humanista. Mas, para defendê-la, é preciso ter consciência social, conhecer e entender a história do Brasil.
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