Ana Fontes

É empreendedora social e fundadora da RME (Rede Mulher Empreendedora). Vice-presidente do Conselho do Pacto Global da ONU Brasil e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República

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Diversidade e inclusão: o que de fato mudaria esse jogo?

Tendemos a buscar ações mais superficiais, fáceis de fazer e de mostrar, enquanto evitamos investir em ações estruturadas

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Recebo muitos convites para falar sobre diversidade e inclusão. Nos últimos anos, surgiram muitas iniciativas sobre esse tema e eu fico muito entusiasmada com isso. Quando fundei a Rede Mulher Empreendedora, era tudo mato. Brincadeiras à parte, apesar de nos reunirmos e falarmos tanto sobre isso, o ponteiro não mexe na velocidade que realmente deveria e precisávamos.

O Brasil é uma nação diversa, segundo o IBGE, aproximadamente 56% da população brasileira se identifica como preta ou parda. As mulheres representam cerca de metade da população brasileira. Um estudo da Unesp e da USP, publicado em 2022, estima que 12% da população adulta no Brasil se identifica como LGBTQIA+. Por que os números continuam tão distantes do que seria justo, considerando que somos parte significativa da população?

Ilustração em vetor sobre fundo claro mostra silhuetas de homens e mulheres coloridas e transparentes que se sobrepõe umas sobre as outras
Aysia/Adobe Stock

Em 2024, as notícias mostram uma realidade preocupante:

● A violência contra mulheres e meninas continua a aumentar, de acordo com dados do Fórum de Segurança Pública

● Mulheres ainda são sub-representadas em todos os espaços de poder: na política, no judiciário, em cargos de liderança e em conselhos

● Nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), as mulheres ainda são minoria, apesar dos esforços para promover a igualdade de gênero nessas áreas

● As mulheres continuam a ser as mais afetadas pelas desigualdades sociais, pela fome, pelas emergências climáticas e por outras adversidades

● Enfrentamos uma sobrecarga emocional e física, com nossa saúde mental sendo severamente afetada pela responsabilidade da "economia do cuidado"

● Além disso, temos menos acesso a recursos financeiros e nossos negócios recebem menos apoio, dificultando nossa capacidade de prosperar economicamente

Bom, agora que quantificamos esses dados —crimes— e a diversidade e inclusão estão em pauta, o que está faltando para mudarmos esse jogo de forma mais contundente?

Minha primeira impressão é que tendemos a buscar ações mais superficiais, aquelas que são fáceis de "ticar a caixinha" e de mostrar, enquanto evitamos investir em ações mais estruturadas, justamente por serem mais desafiadoras e profundas. Como resultado, acabamos implementando ações que parecem boas na superfície, mas que, no final do dia, não causam um impacto significativo ou duradouro.

Por exemplo, criamos grupos de engajamento nas empresas, organizamos eventos para discutir questões relacionadas às mulheres, lançamos campanhas de combate à violência e até criamos cargos de líderes de diversidade nas empresas. No entanto, sem um compromisso real com mudanças estruturais e sistêmicas, essas iniciativas muitas vezes não conseguem transformar realmente a dinâmica social e promover uma cultura de verdadeira inclusão e equidade.

O que precisamos fazer? Nos reunimos, nos inquietamos, voltamos para casa e, no dia seguinte, fazemos o dever de casa. Nos ambientes corporativos, políticas afirmativas de inclusão e metas claras são essenciais. Na política, acesso a capital financeiro e ao mercado para as mulheres empreendedoras são fundamentais. Devemos combater as desigualdades, começando pelo básico: acesso à alimentação, moradia e saúde. Se a luta parece inglória, devemos desistir? Muito pelo contrário, devemos lutar com mais determinação e vontade para que nossas filhas, nossas netas e próximas gerações tenham as mesmas condições e oportunidades, e não sejam julgadas ou colocadas em caixinhas pelo simples fato de serem mulheres.

Às vezes tenho dúvidas se conseguiremos mudar esse jogo nesta geração. As estatísticas e os dados estão contra nós, mostram que levará mais de um século para alcançarmos a tão almejada equidade. No entanto, a semente será plantada e ensinaremos às meninas a regá-la (leia-se, lutar) para que ela floresça.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis

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