Mesmo com o enorme entusiasmo revelado na eleição de Bolsonaro (39% dos eleitores) e que ainda prevalece na sociedade, é impossível negar os seguintes pontos.
1º) O governo é muito desigual. Há áreas (economia, segurança, infraestrutura) exercidas por profissionais de alta qualidade e outras ocupadas por ideólogos amadores que, em lugar de ideias, produzem ruído.
2º) As pesquisas cuidadosas sobre a opinião pública, que a reproduzem mais fielmente do que o “furor tuiteiro” reforçado por robôs (que geram o autoengano), indicam que o governo dissipou mal sua energia. Tem problemas no seu próprio partido e não conseguiu, ainda, convencer a sociedade de que a reforma da Previdência é a sua única prioridade.
Como diz o ministro Guedes, é a primeira barreira —necessária, ainda que não suficiente— que, se for vencida, abrirá o caminho para a superação das outras. Para ela acontecer, entretanto, é preciso restabelecer as relações respeitosas com a política, como sugeriu o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.
3º) A visita a Washington deu resultados pouco palpáveis. O palavrório de Trump inflou o ego do presidente, a ponto de ninguém perguntar quem “inventou” a condição que para entrar na OCDE, o que tem vantagens e desvantagens abstratas, temos de abdicar das poucas vantagens concretas que temos na OMC.
O “inventor” foi o próprio Trump. O Brasil aceitou alinhar-se como colônia a um império decadente. É óbvio que não vamos entregar o prometido. Nos últimos 30 anos, nossa política econômica já nos transformou em colônia da China, uma horrível ditadura, mas um império emergente.
O desmoralizador pedido de apoio “moral” à OCDE para fazer o que sabemos que temos de fazer é uma repetição do entusiasmo de alguns com o Consenso de Washington. Acreditavam que a força externa criaria as condições políticas para implementar a “salvação” econômica do país. Deu no que deu.
4º) A correção de antigos desequilíbrios da estrutura salarial dos militares com relação aos servidores civis (quem, efetivamente, detém o “poder”!), apresentada por necessidade interna, ao mesmo tempo que o corte nas suas aposentadorias, ainda que obviamente correto, será motivo de mais uma confusão e pode atrasar a aprovação no Congresso.
E, finalmente, uma espetaculosa operação midiática muito semelhante à de Janot, que impediu a reforma de Temer, disparou uma enorme especulação na sexta-feira negra: depreciação cambial, aumento do juro futuro e do risco Brasil e queda do Ibovespa. Seguramente, nada que Guedes não possa controlar se for realmente apoiado, mas seus custos “potenciais” podem ser enormes.
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