Becky S. Korich

Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

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Becky S. Korich

Como anda a sua memória?

O esquecimento é uma parte essencial do aprendizado

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Aposto que você está igual. Se disser que não, é porque não se lembra. A chave de casa, o celular, o pão na torradeira, a caneta no cabelo, datas, fisionomias, alguma coisa sempre escapa. Ultimamente, o tempo de eu ir até a cozinha é o suficiente para apagar da memória a razão de ter ido até lá. Mesmo assim eu garanto: minha memória está em plena forma.

Não é porque às vezes eu converso meia hora com alguém sem ter ideia de quem seja, é que sou uma desmemoriada. Quem nunca? Quando fui surpreendida procurando o celular usando a lanterna do próprio celular, vieram com uma conversa estranha, que eu precisava urgentemente de ajuda: magnésio, psiquiatra, espinafre, Sudoku e não lembro mais o quê. Um exagero. Distrações são absolutamente naturais nos dias de hoje com tantas coisas que a gente tem para se focar.

Agenda, caneta e calendário
Fotolia

Isso sem contar com a infinidade de senhas que somos obrigados a memorizar. Uma verdadeira conspiração para nos controlar. Ainda bem que existe a saída honrosa do "esqueci a minha senha", que uso invariavelmente toda vez que entro em aplicativos e sites. Mas ela cisma comigo, testa minha paciência, até eu acertar uma senha que ela resolva não considerar fraca. No fim, como vingança, acabo inventando uma combinação de números e caracteres tão aleatórios que até o computador tem dificuldade de memorizar.

Não sei a sua, mas a minha memória é zombeteira e costuma fazer brincadeiras de mau gosto comigo. Um dia desses (ou foi antes da pandemia?), numa conversa importante (talvez no elevador) me surgiu uma ideia superinteligente. Mal comecei a falar, o vazio invadiu meus pensamentos e, do nada, roubou o lampejo. No vácuo, gaguejei, preenchi o vazio com bobagens, para só depois receber de volta a ideia genial —que, ressurgindo na hora errada, não sobrara nada de genial. Não foi exatamente falta de memória, foi só uma lentidão no meu HD e um probleminha na minha... me fugiu a palavra, mas você entendeu.

Outro dia —meu filho (o caçula, ou talvez o mais velho) sempre faz questão de me lembrar— eu saí para buscá-lo da escola. No caminho fiz algumas ligações, me envolvi com as conversas e acabei passando reto pela escola. Quando estava quase chegando em casa sem o menino, e sem perceber que estava sem o menino, recebo uma ligação dele me avisando que tinha se virado com uma carona. Não tenho dúvidas de que foi o meu subconsciente que me levou a fazer isso, pois já estava na hora de dar mais autonomia ao pequeno. Isso se chama intuição materna, o que nada tem a ver com memória.

Admito que às vezes me fogem alguns nomes. Afinal, são tantas as pessoas que conhecemos. Trata-se, porém, de um detalhe sem importância, mesmo porque a pessoa é muito mais do que o seu nome. É assim que temos que enxergar o outro: sem rótulos. E nesse ponto, minha (falta de) memória age corretamente.

Quando repito oito vezes a mesma história como se fosse uma novidade, a pessoa se irrita, corta o papo e diz "você já me contou". Ora, o problema é falta de paciência, pois cada vez que a gente conta uma história ela é uma nova história, com outros detalhes e nuances.

O esquecimento é uma parte essencial do aprendizado, e o mais importante é que (com licença, vou até a cozinha tomar uma água e já volto para concluir

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