Bráulio Borges

Mestre em teoria econômica pela FEA-USP, é economista-sênior da LCA Consultores e pesquisador-associado do FGV IBRE

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Descrição de chapéu inflação juros Selic

Quanto o Brasil pode crescer?

Atualmente, uma expansão muito acima de 2% traria risco de pressão inflacionária

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No começo de setembro o IBGE divulgará os números do segundo trimestre do PIB brasileiro. As estimativas mais recentes indicam que o desempenho da economia foi forte no período, a despeito do choque negativo associado à tragédia no Rio Grande do Sul em maio. Com isso, já se fala em crescimento do PIB neste ano de 2024 na faixa de 2,5% a 3,0%, muito próximo dos 2,9% observados em 2023.

Vale notar que as projeções de consenso para a alta do PIB brasileiro no começo deste ano estavam em torno de 1,5%. Eu mesmo tinha uma visão de que a atividade perderia bastante fôlego, em função de uma perspectiva de queda relevante da renda agropecuária (com transbordamentos para diversos setores da economia) e do colapso da demanda argentina (a economia dos "hermanos" deverá recuar uns 5% em 2024).

Colheitadeira despeja milho em caminhão em fazenda próxima a Brasília - Adriano Machado/Reuters

Esses dois choques negativos de fato estão se materializando, mas, ainda assim, a economia brasileira vem surpreendendo positivamente. Parte disso pode ser creditada à injeção expressiva de recursos, de R$ 92 bilhões, ocorrida nas últimas semanas de 2023, associada ao pagamento de precatórios atrasados. Isso não estava "na conta" dos analistas até o começo de dezembro (após decisão do STF sobre o tema).

Com a economia brasileira caminhando para o terceiro ano consecutivo de crescimento em torno dos 3%, muitos questionam se esse não seria o novo "ritmo potencial", depois de uma década em que andamos de lado. Muita cautela nesta hora: surpresas favoráveis persistentes podem não necessariamente refletir mudanças mais estruturais e/ou gerar tais mudanças.

O conceito de "PIB potencial", tão citado entre os economistas, corresponde a uma estimativa do crescimento da capacidade de oferta doméstica de bens e serviços da economia. Se a economia cresce acima do potencial por muito tempo, isso pode gerar alguns gargalos e pressões de custos/inflacionárias, ao passo que um crescimento abaixo do potencial é indesejável por várias razões, que vão do bem-estar da população às contas públicas.

Mas a coisa é um pouco mais complicada... Uma economia pode crescer acima do potencial ocupando um excesso de ociosidade das fábricas e da mão de obra herdado de períodos anteriores —foi o caso do Brasil até o final do ano passado. Uma economia também pode crescer acima do potencial sem gerar pressões inflacionárias muito severas caso importe mais produtos do exterior, ampliando a oferta doméstica (algo, contudo, que pode piorar as contas externas). Só que não dá para importar boa parte dos serviços.

Minhas estimativas mais recentes apontam que o crescimento do PIB potencial brasileiro está, hoje, em torno de 2% a.a. e que não há mais excesso de ociosidade remanescente. Assim, um crescimento do PIB efetivo muito acima desses 2%, como parece estar pintando para 2024, poderia gerar pressões inflacionárias. Isso pode ser mais facilmente compreendido observando a situação do mercado de trabalho: a taxa de desemprego, cuja variação é inversamente proporcional à variação do PIB, está hoje em torno de 7% da força de trabalho, abaixo de minhas estimativas da taxa que é compatível com salários reais crescendo no mesmo ritmo da produtividade do trabalho, entre 7,5% e 8% ("taxa de pleno emprego").

Algumas reformas importantes aprovadas recentemente, como a da tributação indireta (CBS/IBS) e o Novo Marco Legal de Garantias, poderão elevar esse crescimento potencial para 2,5% ou 3%. Mas não para já, e sim de forma mais diferida ao longo da década atual (até mesmo porque há uma transição longa no caso da primeira reforma).

É nesse contexto de atividade tendendo a algum superaquecimento, conjugada à forte depreciação de cerca de 10% do R$/US$ ao longo deste ano, que o cenário de Selic a um dígito em 2024 saiu do radar.

Ainda assim, uma taxa básica de juros em 10,5%, como está hoje, ainda é bastante restritiva, comparativamente a um juro "neutro" em torno dos 8,5 a 9% a.a.

Não sei se uma elevação da Selic agora se faz necessária para assegurar inflação na meta no começo de 2026...

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