Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Ciranda da alta burocracia é sintoma de fracasso no combate ao fogo

Da sala de situação ao conselho contra desastres, ainda falta tratar a emergência climática como uma emergência

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O governo criou em junho uma sala de situação para enfrentar a seca e os incêndios no país. Na primeira reunião, o grupo discutiu formas de facilitar a contratação de brigadistas. No segundo encontro, Marina Silva disse que os órgãos federais operavam "em plenas condições" de ação. "Já sabíamos que este ano seria severo", disse a ministra.

Tudo indica que a turma daquela sala avaliou mal a situação. Nos meses seguintes, o fogo se espalhou e a fumaça tomou boa parte do território nacional. A crise chegou ao Supremo, que determinou o aumento do número de brigadistas em ação. Com quase 700 focos de incêndio registrados no ano, o presidente Lula reuniu autoridades no Planalto e admitiu: "A gente não estava 100% preparado para cuidar dessas coisas".

A ciranda da alta burocracia é um sintoma do fracasso geral no combate às queimadas. Da sala de situação, saiu a instalação de uma força-tarefa para atacar o problema. Depois, o governo começou a discutir a criação de uma autoridade climática e a formação de um conselho para enfrentar os desastres naturais. A reunião de cúpula dos três Poderes, na terça-feira (17), completou o ciclo do oficialismo.

O presidente Lula (PT) em reunião sobre a crise climática com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o presidente do STF, Luis Roberto Barroso, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e outras autoridades - Pedro Ladeira/Folhapress

O país não tem pessoal e equipamento suficientes para dar conta de uma crise de dimensões tão grandes. Conselhos e grupos de trabalho podem se reunir para fazer as contas e reformular a estrutura de resposta a desastres desse tipo, mas será tarde.

Há um capítulo reservado à reação lenta, insuficiente e ineficaz de governadores, chefes dos corpos de bombeiros. Ibaneis Rocha (DF) foi uma notável ausência enquanto a fumaça tomava a capital do país. Tarcísio de Freitas (SP) confessou a Marina Silva a sensação de impotência provocada pelo fogaréu, e Ronaldo Caiado (GO) reclamou do que seria uma obstrução à atuação dos estados.

Na reunião de terça-feira, quase todas as autoridades deram peso às suspeitas de ação criminosa nas queimadas. Há muitos indícios que apontam nessa direção, mas nenhum deles reduz responsabilidades ou acaba com a obrigação de enfrentar de maneira firme e acelerada as consequências desses crimes. Ainda falta tratar a emergência climática como uma emergência.

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