Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Michelle Bolsonaro supera Tarcísio e Zema em capital digital e carisma

Ex-primeira-dama está bem à frente de ambos em dois quesitos fundamentais para medir potencial político

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Enquanto o futuro do bolsonarismo vem sendo disputado publicamente pelos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Romeu Zema (Novo), o Partido Liberal lança seu próprio balão de ensaio: Michelle Bolsonaro.

Atualmente, a ex-primeira-dama conta com 5,9 milhões de seguidores no Instagram, quase 1 milhão a mais do que possui Eduardo Bolsonaro, o mais popular dos filhos de Jair Bolsonaro na rede.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro - Sérgio Lima - 29.out.2022/AFP

Ao contrário do marido, Michelle tornou pública sua decisão de se vacinar contra a Covid nos Estados Unidos em 2021. Além disso, o estilo empregado em suas intervenções públicas contrasta radicalmente com a beligerância do capitão reformado.

Em uma postagem recente, visualizada por mais de 4 milhões de pessoas e curtida por mais meio milhão, Michelle fala sobre o Carnaval utilizando a mesma linguagem do feminismo institucional.

Vestida com uma camiseta rosa, avisa: "O Carnaval é uma tradição de nosso país. Todos os que gostam e desejam tem o direito de aproveitar as festas. A segurança de todas as pessoas precisa ser garantida. Se você for vítima de assédio, denuncie. Você não está só. Fiquem atentos ao tema deste ano: minha fantasia não é um convite. Não é não".

Destaco o uso da expressão "todas as pessoas".

Ao mesmo tempo, Michelle também utiliza uma linguagem voltada para o público cristão.

Em um evento da campanha presidencial em Cascavel declara a uma multidão de pessoas vestidas de verde-e-amarelo: "Uma mulher sábia edifica seu lar, mas mulheres sábias edificam uma nação", no que é secundada por um coro dos presentes que agitam balões com as cores nacionais.

A mistura das duas linguagens possui um objetivo claro, como afirma Cris Corrêa, escritora negra e influenciadora antifeminista: reunir mais mulheres do que o feminismo.

Hoje Michelle lidera o setor de mulheres do Partido Liberal, o PL Mulheres. Para tanto, possui a seu dispor quase R$ 900 mil por mês, oriundos do fundo partidário, e conta com um salário de R$ 39,2 mil, o mesmo valor que receberia caso fosse deputada federal.

O partido espera que o investimento resulte na conquista de mais votos femininos. Para além da aposta em uma forte campanha no dia 8 de março, o PL já anunciou que custeará uma turnê política de Michelle Bolsonaro pelo Brasil com o objetivo de expandir o alcance de seu programa para mulheres.

A agenda deverá enfocar o engajamento das mulheres na política, mulheres com deficiência e mães de pessoas com deficiência, as chamadas "mães raras".

A empreitada, no entanto, não é fruto de um apreço especial do partido pelas mulheres.

Em 2022, faltando quatro dias para as eleições, o partido havia usado apenas 23,46% de seus recursos para candidaturas femininas, quando o mínimo legal é 30%.

Contudo a legislação atual prevê que os votos recebidos por candidaturas de mulheres e pessoas negras contarão em dobro para a distribuição dos recursos do fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha até 2030. Regra que o PL parece ávido por cumprir.

Michelle Bolsonaro não reúne a experiência política institucional de Tarcísio e Zema. No entanto está bem à frente de ambos em dois quesitos fundamentais para medir potencial político nos dias de hoje: capital digital e carisma.

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