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clóvis rossi

 

23/08/2010 - 17h15

Mesma política, menos efusão

Aberta como está a temporada de informações/especulações sobre o governo Dilma Rousseff, cabe, já que esta é uma "Janela para o mundo", especular sobre a política externa (sobre a política interna, já o fiz na Folha-papel de domingo).

No capítulo externo, aliás, é menos especulação e mais dedução lógica: haverá uma continuidade ainda maior do que nas políticas internas. Por duas razões: primeiro porque o interesse de Dilma por política externa é reduzido, se comparado com o seu empenho nas questões internas. Segundo, porque o coordenador de seu programa de governo chama-se Marco Aurélio Garcia, que, como você sabe, vem a ser o assessor diplomático do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Marco Aurélio é figura relevante da política externa do atual governo e, se tem posição de destaque ao lado da provável futura presidente, o lógico é que dê continuidade ao que fez nos oito anos em que esteve junto ao presidente em todos os eventos internacionais relevantes.

Poderia acrescentar um terceiro elemento, mas este é, sim, especulativo: no Palácio do Planalto, especula-se com a permanência de Celso Amorim no cargo de ministro de Relações Exteriores, ao menos durante os primeiros meses do governo Dilma. Ou com a sua substituição pelo atual vice-chanceler, Antônio Patriota, uma cria de Amorim. Continuidade, pois, na veia.

O que tende a mudar, sempre pela lógica, é a maneira de expressar-se (interna como externamente). Lula é naturalmente efusivo, expansivo, faz-se amigo de infância de qualquer governante que acaba de conhecer.

Quando o presidente Barack Obama tratou-o de "o cara", durante a cúpula do G20 de Londres, em abril do ano passado, Lula explicou que era uma brincadeira que se devia ao fato de que ele, Lula, tratava como "companheiros" seus colegas presidentes (ou primeiros-ministros).

Eu fui testemunha ocular desse jeito efusivo de ser, seja com governantes de direita, de esquerda, de centro, do mundo rico, dos emergentes, dos pobres.

Dilma, ao contrário, parece fazer questão de manter distância entre ela e seus interlocutores, salvo os que são realmente da casa, por assim dizer. Não é de efusões, portanto.

Ou seja, por mais que a política seja basicamente a mesma, a diferença de personalidade tende a provocar menos emoções e, por extensão, menos presença midiática da eventual futura presidenta. O conteúdo, portanto, não muda, mas a forma --que hoje é dia é quase tão importante quanto o conteúdo-- se altera, sim.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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