Cristina Serra

Paraense, jornalista e escritora. É autora de "Tragédia em Mariana - A História do Maior Desastre Ambiental do Brasil". Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Cristina Serra
Descrição de chapéu jornalismo

À memória de Bruno e Dom

Estrutura da Funai está a serviço de uma política de extermínio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O dossiê "Fundação Anti-indígena", organizado pela INA (Indigenistas Associados) e pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), expõe com profusão de detalhes e documentação como a Funai, sob Bolsonaro, se transformou numa máquina de guerra contra os povos indígenas.

A estrutura do órgão está a serviço de uma política de extermínio, que impede novas demarcações e facilita a invasão dos territórios e a implantação de atividades predatórias e criminosas. O dossiê também mostra as perseguições contra funcionários que tentam resistir ao projeto de etnocídio, como foi o caso de Bruno Pereira.

Outro exemplo de acosso é o do indigenista Ricardo Henrique Rao. Em entrevista ao portal Sul21, ele conta que buscou asilo na Noruega, no fim de 2019, logo após o assassinato do líder indígena Paulo Paulino Guajajara, no Maranhão, e depois de denunciar a atuação de milícias (supostamente do Rio de Janeiro) associadas ao narcotráfico e a desmatadores em terras indígenas no estado. Sem o respaldo da Funai e sofrendo intimidações até da Abin, Rao decidiu deixar o Brasil.

Laércio Guajajara (esq.), Paulo Paulino Guajajara e Olímpio Guajajara (dir.), no território indígena Arariboia, no Maranhão, em abril de 2019; Paulino foi assassinado em 1° de novembro daquele ano - AFP

A invasão das terras indígenas patrocinada pelo Estado se traduz nos números de um relatório da consultoria GeoPrecisa, publicado pelo site Mongabay. O cruzamento de dados da Funai e do Incra mostra que o governo Bolsonaro reconheceu mais de 250 mil hectares de fazendas dentro de reservas indígenas. Mais da metade das terras reconhecidas está no Maranhão. O assalto na mão grande foi possível graças a uma norma da Funai que permitiu o registro de imóveis em territórios sem o processo de demarcação concluído.

É uma investida covarde e sem trégua. O jornalista britânico Dom Phillips entendeu a gravidade da tragédia em curso e quis documentá-la. Bruno Pereira foi um dos mais valorosos combatentes desta guerra. Fez jus ao legado humanista de Rondon, dos irmãos Villas-Bôas, de Sydney Possuelo e de tantos outros. Que sejamos capazes de honrar a história e a memória de Bruno e Dom.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.