Drauzio Varella

Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”.

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Drauzio Varella

Quando deixamos de transmitir Covid-19 para sair do isolamento?

Com surgimento de novas variantes, não é razoável escolher dia determinado para a pessoa deixar de ser contagiosa

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Parece incrível que a duração do período de transmissão da Covid ainda esteja cercada de incertezas.

No início da pandemia, a recomendação era que o isolamento dos doentes durasse duas semanas, contadas a partir dos primeiros sintomas.

Em dezembro de 2021, no entanto, os Centers for Disease Control, CDC, dos Estados Unidos reduziram esse período para cinco dias. A agência se baseava em observações de que a transmissão ocorria principalmente nos dois dias que antecediam os sintomas, até dois ou três dias depois da instalação deles.

Camas de hospital equipadas com volantes aguardam com seus pacientes impacientes um semáforo abrir. Um médico-guarda-de-trânsito de braço erguido e apito na boca, ordena que esperem. O sinal está vermelho. Uma grande onomatopeia indica o som de motores nervosos
Ilustração publicada em 10 de agosto - Libero

De acordo com os CDC, o dia da instalação da sintomatologia deveria ser considerado o dia zero (o dia seguinte seria o dia um). Assim, se a doença começasse se numa segunda-feira, o paciente já poderia retornar à vida normal no domingo, com uma ressalva: desde que estivesse 24 horas afebril e com os demais sintomas regredindo. A partir desse dia, deveria manter o uso de máscara por mais cinco dias. Um pouco complicado, não?

Desde então, essa orientação vem sendo questionada pelos especialistas, muitos dos quais a consideram influenciada por pressões políticas.

As críticas tomam com base estudos que detectaram o vírus nas secreções nasais, no decorrer da segunda semana de doença.

Entrevistado pela revista Nature, Amy Barczak, infectologista do Massachusetts General Hospital, ligado à Universidade Harvard, foi enfático: "Não há dados suficientes para garantir que ele seja menor do que dez dias". Seu trabalho, publicado online no site Medrxiv, sugere que cerca de 25% das pessoas infectadas pela variante ômicron chegam ao oitavo dia ainda em condições de transmiti-la.

Na verdade, não é razoável escolher um dia determinado para a pessoa deixar de ser contagiosa: a questão é estatística, prezada leitora.

A pergunta certa é: quando a maioria deixa de transmitir o vírus? O número dos que continuam transmitindo no decorrer da segunda semana é relevante para a saúde pública?

O problema é bem mais complexo do que sugere a pressa dos CDC em assegurar a volta ao trabalho.

Hoje lidamos com novas variantes do coronavírus, com o estímulo imunológico provocado pela vacinação e com a imunidade natural induzida por Covid prévia. Qual o impacto desses fatores no controle da infecção e na velocidade de eliminação do vírus?

Para complicar, na avaliação dos estudos entram em cena fatores comportamentais: quanto mais debilitante a sintomatologia, maior será o período em que o doente ficará em casa, enquanto os assintomáticos ou com sintomatologia leve tenderão a se movimentar mais precocemente, aumentando o risco de transmissão.

Outro complicador é o fato de que o teste de PCR pode persistir positivo mesmo depois que a pessoa deixou de transmitir há vários dias.

Essa positividade é explicada pela presença de fragmentos de RNA inviável que persistem mesmo depois da eliminação completa do vírus.

Na avaliação desses casos, o ideal é realizar o teste rápido do antígeno, uma vez que ele detecta proteínas produzidas apenas enquanto o vírus ainda mantém a replicação. Se depois de uma semana ou mais o teste rápido for positivo, o isolamento deve ser mantido até ocorrer negativação.

E quando o teste rápido já deu negativo, mas a tosse, o cansaço e a dor de garganta ainda não foram embora? A persistência dessas queixas não significa que a pessoa ainda transmita o vírus. Essa sintomatologia pode ser causada pela própria resposta imunológica, fenômeno que eventualmente persiste mesmo depois da eliminação do vírus.

Para ter certeza se o doente ainda transmite, o ideal seria colher o vírus diretamente das secreções nasais, para semeá-lo em meios de cultura, técnica acessível apenas em laboratórios especializados, não disponíveis na rotina.

Os dados que emergiram de pesquisas com essa tecnologia mostraram que é muito raro encontrar SARS-CoV-2 viáveis depois do décimo dia, contados depois do surgimento dos primeiros sintomas.

Talvez possamos resumir da seguinte maneira: ao décimo dia o isolamento pode ser suspenso sem haver necessidade de repetir qualquer teste. Antes, apenas depois do quinto dia, nos casos em que o teste rápido estiver negativo. Pacientes com imunodepressão podem transmitir por períodos mais prolongados.

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