Esper Kallás

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

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Esper Kallás
Descrição de chapéu Coronavírus

A transmissão da Covid-19 por crianças

O impacto que o retorno às aulas terá na pandemia de Covid-19

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Uma das características mais marcantes da Covid-19 é sua preferência em causar doença grave em pessoas de mais idade. Em todo o mundo, observou-se que, quanto mais velho o paciente, maior a chance de desenvolver doença pulmonar agressiva provocada pelo novo coronavírus.

Estudo recente avaliou registros de mais de 17 milhões de pessoas na Inglaterra, dentre as quais ocorreram quase 11 mil mortes por Covid-19. Os resultados mostraram que mais idade foi o principal fator relacionado à morte. Tomando-se como base comparativa as pessoas com 50 a 60 anos de idade, o risco de morrer por Covid-19 aumenta quase três vezes para quem tem entre 60 a 70 anos; 8,6 vezes para quem tem 70 a 80 anos; e 38 vezes para pessoas com mais de 80 anos de idade.

A surpresa aparece ainda na comparação com jovens de 18 a 40 anos: o risco de morrer de Covid-19 é 20 vezes menor do que entre quem tem 50 a 60 anos.

Os números são ainda menores em crianças. Foram somente 30 crianças até 10 anos de idade entre o total de 19.788 mortes no estado de São Paulo. Das 30, somente seis não tinham histórico de outras doenças associadas, que antecederam a Covid-19. Sem dúvida, há algo que protege as crianças, mas ainda não sabemos o que é.

Será que crianças, por apresentarem menos a doença, transmitem menos o novo coronavírus? Tudo leva a crer que sim. Especialistas estão convergindo para um consenso de menor capacidade de transmissão do novo coronavírus por crianças. Com o aumento da idade, a capacidade de transmitir o vírus cresce, o que sugere que a presença de sintomas comuns, como a tosse, impulsionam a transmissibilidade.

As implicações desses achados são imediatas, especialmente quando se discute a segurança para a volta às aulas durante a pandemia. Deveríamos ter extremo rigor com as crianças nas salas de aulas?

A resposta que temos, por ora, ainda é imprecisa. Tudo indica que a preocupação com os pequenos não deva ser a mesma que temos com crianças mais velhas e adultos jovens. Resultados de um estudo na Alemanha apontam para essa direção. Embora tenha ocorrido aumento de casos com a retomada das aulas, os casos foram muito mais concentrados em crianças mais velhas e seus familiares.

Nesse sentido, vale considerar que a retomada das aulas deva começar pelo ensino fundamental. Mas há que se observar uma regra importante: a retomada deve ser considerada em escolas de regiões onde a pandemia estiver em queda.

A métrica, por sua vez, ainda é imprecisa para essa tomada de decisão. Em qual nível deve estar a transmissão do novo coronavírus para que façamos isso de maneira segura? A resposta ainda é uma incógnita.

Em muitos lugares, as aulas presenciais já recomeçaram. Levou-se em conta, isoladamente, a necessidade de reintegrar as crianças aos estudos e ao convívio social com seus semelhantes, sem os quais o prejuízo na formação pode levar muito tempo para corrigir.

Achar uma solução para a retomada das aulas ainda é um desafio. Alternativas para diminuir o impacto da reabertura podem ajudar a reduzir a chance de aumento dos casos de Covid-19. Ações de reforço nas medidas de higiene pessoal, respeito ao distanciamento, redução no tamanho das turmas, escalonamento de horários, além do início da retomada entre crianças menores, são parte da estratégia. Mas é fundamental que fiquemos atentos aos números: ainda estamos aprendendo com eles.

Diante da suspeita de que a retomada das aulas tenha resultado em aumento dos casos de infecção em uma região, talvez tenhamos que, infelizmente, sacrificar o ensino presencial por mais tempo.

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