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humberto luiz peron

 

03/07/2012 - 16h29

Derrota em 82 forjou uma geração que não gosta do bom futebol

Mesmo sabendo que as finais da Libertadores e da Copa do Brasil vão dominar o noticiário esportivo durante esta semana, resolvi falar da pior tragédia da história do nosso futebol: a derrota do Brasil para a Itália, por 3 a 2, na Copa do Mundo de 1982.

(em 2005, eu fiz um texto sobre o jogo, chamado "Três motivos para nossa derrota no Sarriá", veja aqui, que tenta explicar os motivos de nossa derrocada)

Repito que a eliminação precoce daquele time fantástico, comandado por Telê Santana e com uma geração de craques como Falcão, Sócrates e Zico - no auge de suas carreiras - causou um mal muito maior ao nosso futebol que a trágica derrota do Brasil na final da Copa do Mundo de 1950, jogando em casa para o Uruguai.

Por incrível que possa parecer, o revés no Maracanã fez o futebol brasileiro progredir. Após o Maracanazo, todos perceberam que, para ganhar uma competição, é preciso um pouco de organização, e não apenas um punhado de bons jogadores em campo. Sem a derrota em 1950 não teríamos vencido cinco Copas do Mundo.

Já o fracasso do excepcional time de Telê Santana, há 30 anos, fez com que nosso futebol caminhasse muito passos para trás. Desde que terminou aquela partida, foi criada uma geração - a que comanda nossos times tecnicamente, de torcedores e também de quem analisa futebol hoje - que rompeu com a essência do nosso futebol, que era baseada nos de dribles e no jogo ofensivo. Ou seja, uma grupo que detesta o futebol bem jogado.

Essa geração foi forjada acreditando piamente na expressão "quem joga bonito não ganha". O que é uma grande falácia. Times ruins que conseguiram ganhar títulos são muito poucos e exceções. Geralmente, quem vence campeonatos são sempre as melhores equipes e as mais bem estruturadas e não aquelas que só jogam feio e dando pontapés.

Aliás, todos os esquadrões que marcaram por atuar ofensivamente sempre tiveram por característica também marcarem muito bem seus adversários. Foi o caso do Brasil de 1970, o carrossel holandês da Copa de 1974 e, para não ficar apenas no passado, isso acontece atualmente com o Barcelona e a seleção da Espanha.

Voltando ao "quem joga bonito não ganha" é preciso dizer que alguns jogadores recalcados que conquistaram a Copa de 1994, ajudaram - e fizeram questão - de tornarem a frase uma verdade absoluta. É triste como os próprios jogadores que conquistaram o tetra diminuem aquela conquista ao dizerem isso.

Aquela seleção foi muito melhor do que as pessoas dizem. Uma pena que os protagonistas daquele título insistem em apenas ressaltar o poder de marcação, a garra dos jogadores e que eles foram vencedores - o que a geração da Copa de 1982 não foi.

Os efeitos drásticos da nossa derrota em 1982 também são notados quando já temos torcedores que vibram, como se fosse um gol, quando um perna de pau dá um carrinho ou um chutão para a lateral e vibra quando o time tem um escanteio para colocar a bola na área. Não me conformo que temos uma geração que prefere um volante brucutu e trata mal um jogador que tenta uma série de dribles.

Também fico impressionado em observar como existe sempre a torcida para que o time que joga ofensivamente perca uma partida ou um campeonato, para que os medíocres possam usar a expressão "quem joga bonito não ganha".

Depois da Copa de 1982, passamos a classificar como grandes treinadores aqueles que só sabem armar esquemas defensivos e que só priorizam a marcação. Fico pasmo quando colegas usam a famigerada expressão "nó tático" e consideram gênio um técnico que ganhou um jogo apostando apenas na retranca e nos contra-ataques.

Que algo novo surja em nosso futebol, o mais rápido possível, para que, daqui a 30 anos, possamos ter uma geração que aprecie o jogo técnico e muito bem jogado. É preciso acabar com aqueles, que induzidos por medíocres e teóricos, acreditam que o futebol não pode ser um espetáculo e jogado por quem tem habilidade.

Até a próxima!

Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE
Para a Espanha, que conquistou mais um título importante, a Eurocopa. É incrível como a equipe consegue tocar a bola seguidamente porque seus jogadores estão sempre bem distribuídos no gramado. Quando um atleta recebe a bola, ele sempre tem no mínimo dois companheiros como opção para fazer o passe. É um time que também sabe muito bem a hora de ser contundente e criar a jogada de gol. A seleção espanhola, com a grande quantidade de passes, acaba minando fisicamente o adversário, que precisa correr muito para tentar recuperar a posse de bola.

ERA PARA SER DESTAQUE
Faz tempo que a cidade de São Paulo não ficava tão mobilizada com um jogo como essa final entre Corinthians e Boca Jrs. Em qualquer lugar que se caminhe pela metrópole, é fácil ver alguém com uma camisa ou bandeira do time paulista - existem também muitos que usam adereços do time argentino - e as conversar só giram em torno da partida. Vamos esperar que nos 90 minutos tenhamos uma partida que justifique a enorme expectativa dos torcedores.

humberto luiz peron

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.

 

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