Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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O bem, o Messenger e as crianças

Facebook lançou nos EUA Messenger Kids, para crianças com menos de 13 anos
Facebook lançou nos EUA Messenger Kids, para crianças com menos de 13 anos - Divulgação

Vivemos numa era em que cada vez mais pessoas se dedicam a fazer o bem, escolhendo uma causa nobre para militar. Admiro esses indivíduos. Sua existência é um sinal de que há esperança para a humanidade. Depois que consegue assegurar condições de vida razoavelmente confortáveis para si e para os próximos, como aconteceu em boa parte do Ocidente, o ser humano deixa aflorar os anjos bons de sua natureza.

Preocupa-me, porém, a facilidade com que esses militantes do bem universalizam teses que não são universalizáveis. Um bom exemplo é o das organizações de defesa da criança que estão tentando fazer com que o Facebook retire da rede o aplicativo Messenger Kids.

Eu até concordo com a maior parte dos argumentos desses grupos. É preciso estar atento à introdução muito precoce no universo digital. Crianças não estão preparadas para relacionamentos on-line e lhes falta compreensão sobre privacidade e sobre o modo correto de compartilhar textos, imagens e vídeos.

O problema é que isso não basta para recomendar o fim do aplicativo. Não estamos, afinal, falando de exposição a altas doses de radiação, que levam inexoravelmente à morte. Alguém pode legitimamente pensar de outra forma. É possível, por exemplo, que alguns pais, diante da inevitabilidade do contato com as redes sociais e considerando seus filhos já suficientemente maduros, prefiram que os jovens se iniciem no ambiente um pouco mais controlado do Messenger Kids, e não na terra de ninguém dos aplicativos comuns.

Meu ponto é que não é porque nos imaginamos agindo em nome do bem que estamos autorizados a impor nossas visões de mundo a quem delas não deseja compartilhar. Sem o reconhecimento de que nem tudo é uma verdade absoluta e de que nem toda verdade se aplica a todos (o mundo é um lugar complexo), a própria ideia de fazer o bem fica comprometida.

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