Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Butantan tropeça de novo

Lamentável instituto coadjuvar iniciativas de marketing do governador-candidato

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Sempre que o governador João Doria aparece numa entrevista coletiva envolvendo o Instituto Butantan, devemos esperar exageros, embelezamentos e outras más práticas científicas. Quando o governador não participa, aí há chance de uma comunicação mais honesta.

João Doria visita o Instituto Butantan no dia em que o instituto entrega novas doses da vacina - Governo do Estado de São Paulo


Na semana passada, Doria foi ao instituto para anunciar a Butanvac, "primeira vacina 100% nacional, desenvolvida integralmente por cientistas do Butantan" contra a Covid-19. No dia seguinte, após reportagem de Ana Bottallo, na Folha, ter mostrado que não era bem assim, o instituto publicou uma constrangedora nota informando que o vírus vacinal fora desenvolvido por cientistas do Hospital Mount Sinai, em Nova York, e que a proteína S estabilizada usada no imunizante havia sido criada na Universidade do Texas, Austin.

Não é a primeira vez que esse tipo de coisa acontece. Em janeiro, quando se anunciaram resultados do ensaio clínico brasileiro com a Coronavac, tivemos uma primeira coletiva, com Doria, na qual só se divulgaram os dados mais positivos, e outra, uma semana depois, sem Doria, na qual se mostrou um panorama mais completo, e menos brilhante, do desempenho da vacina.

Não me entendam mal. A Butanvac, se vingar, terá sido um gol de letra. E, mesmo que não funcione, terá sido uma belíssima tentativa. Também a Coronavac é importantíssima para o Brasil. Não fosse pelos esforços do governo paulista e do Butantan em conseguir um imunizante, a situação do Brasil seria ainda mais desesperadora do que é. Perto de Bolsonaro, Doria é um farol de Iluminismo.

É lamentável, porém, que o Butantan se preste a coadjuvar as iniciativas de marketing do governador candidato a presidente. Ao fazê-lo, ele mina a confiança na integridade da comunicação da ciência, que é o que a viabiliza como atividade colaborativa e cumulativa. Sempre que a ciência se deixa instrumentalizar pela política, quem perde é a ciência.

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