Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Gerindo a incerteza

Livro mostra como Big Techs se apropriam de informação para assegurar monopólio e lucrar

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"Incerteza, um Ensaio", de Eugênio Bucci, é um livro ao mesmo tempo despretensioso e profundo. O autor começa recapitulando ideias da física sobre incerteza e entropia, passa pela teoria da informação de Claude Shannon, e mostra como o mundo moderno, em especial a esfera digital, se tornou um campo de batalha pelo controle da incerteza. As big techs se garantem como monopólios porque são capazes de se apropriar da incerteza e geri-la.

Antes de seguir, devo assinalar que Bucci é meu amigo, o que me torna automaticamente meio suspeito para comentar seu livro. O leitor que aplique os descontos que julgar necessários.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 28 de janeiro de 2024, mostra, sobre um fundo escuro, uma mão caucasiana que emerge de um mar de pontos de interrogação vermelhos.
Ilustração de Annette Schwartsman para coluna de Hélio Schwartsman - Annette Schwartsman/Folhapress

Tudo no livro é muito didático e bem argumentado. Faço, contudo, ressalvas a algumas das conclusões do autor, e isso tem a ver com uma diferença de perspectivas. Bucci é mais marxista do que eu e isso faz com que ele veja as relações de mercado como um jogo de soma zero, no qual o lucro de um é o prejuízo do outro. Minha matemática é diferente. Acho que ocorrem também muitas interações de soma positiva nas quais as duas partes ganham com a transação.

Um exemplo? Circula na internet um vídeo genial em que Andy George faz um sanduíche de frango "ab ovo", isto é, produzindo ele próprio os ingredientes. Resumindo, entre plantar o trigo para fazer o pão e viajar ao litoral para extrair sal da água do mar, ele leva seis meses e gasta US$ 1.500 (R$ 7.384). São os mecanismos de mercado que fazem com que os ganhos da especialização do trabalho sejam distribuídos pela sociedade.

Não é o suficiente para tornar o capitalismo uma força benigna, mas é o que basta para compor um quadro complexo, com bônus e ônus. Concordo com a maior parte das conclusões de Bucci, que pinta as big techs como entidades autoritárias que promovem ativamente a ignorância para lucrar. Precisamos regular melhor a gestão das incertezas. Como fazê-lo, porém, permanece para mim algo bastante incerto.


helio@uol.com.br

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