Ian Bremmer

Fundador e presidente do Eurasia Group, consultoria de risco político dos EUA, e colunista da revista Time.

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O grande confronto que vem por aí entre Bolsonaro e Lula

Não há eleitores prováveis suficientes para que qualquer outro candidato possa emergir das duas dúzias de partidos brasileiros

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O Brasil se encaminha para um confronto político brutal que chegará ao auge na eleição presidencial de 2022, a mais acirrada (e mais interessante) do país. Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva estão em rota de colisão.

Nos últimos anos, os brasileiros sofreram a pior recessão da história nacional, um dos maiores totais de mortos por Covid no mundo, o aumento da criminalidade violenta e uma controvérsia global sobre a destruição em larga escala da Amazônia. O presidente Bolsonaro encara um futuro incerto.

Apelidado por alguns de “Trump dos trópicos”, Bolsonaro foi eleito presidente em outubro de 2018 com mais de 55% dos votos de uma nação profundamente polarizada.

Manifestante, enrolada em bandeira de apoio a Lula, tira foto de boneco inflável que representa o presidente Jair Bolsonaro durante protesto em Brasília
Manifestante, enrolada em bandeira de apoio a Lula, tira foto de boneco inflável que representa o presidente Jair Bolsonaro durante protesto em Brasília - Ueslei Marcelino - 29.mai.21/Reuters

Ecoando a corrida presidencial de Donald Trump em 2016, Bolsonaro prometeu “drenar o pântano”, combatendo o crime e a corrupção, manifestou posições chocantes sobre questões sociais e expressou apoio profundo aos militares brasileiros.

Mas desde sua posse, em 2019, ele vem encarando e em alguns casos provocando uma tempestade política após outra. Quando era candidato, Bolsonaro prometeu promover um novo arranque numa economia que estava atolada numa recessão desde 2014, mas o crescimento econômico permanece baixo, e o desemprego, em alto patamar.

Isso se deve em parte à pandemia, é claro, mas o tratamento desastroso dado pelo presidente à maior crise de saúde pública dos últimos cem anos levou a situação a se agravar muito mais do que seria necessário. Bolsonaro minimizou a gravidade da Covid, negou-se a apoiar o uso de máscaras e complicou a distribuição das vacinas.

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Quando a pandemia se espalhou, Bolsonaro ofereceu à população uma assistência emergencial que ajudou temporariamente os cidadãos mais pobres, mas em 2020 55% dos brasileiros enfrentaram a insegurança alimentar. Dezenas de milhões deles ainda dormem com fome todos os dias.

Quanto às queimadas na Amazônia, o desmatamento acelerado na região foi responsável por um terço da destruição das florestas tropicais do mundo em 2019. O presidente Trump, cético em relação à mudança climática, se dispôs a ignorar as consequências ambientais dessa devastação toda, mas a administração Biden se uniu a líderes europeus para combinar ofertas de assistência financeira ao Brasil com pressão sobre Bolsonaro para inverter o rumo de sua política para a Amazônia.

Agora Lula volta a entrar em cena. O ex-presidente, incendiário de esquerda ainda popular, saiu da prisão e se prepara para enfrentar Bolsonaro na eleição presidencial do próximo ano. Quando isso acontecer, o mundo assistirá a um enfrentamento amargamente contencioso de um tipo novo.

Nos últimos anos, o mundo se acostumou a ver candidatos populistas enfrentando políticos do establishment. Mas a disputa presidencial no Brasil colocará em confronto direto dois populistas altamente talentosos, um de direita e o outro de esquerda.

Lula representa os brasileiros mais pobres, aqueles que sentem que ninguém mais no poder se importa com eles. Sua experiência formadora como líder sindical forte e sagaz e a popularidade que conquistou como presidente ao investir grandes quantias de dinheiro público para criar oportunidades para as famílias mais pobres do Brasil lhe conferiram uma estatura e uma chance de vencer que nenhum dos outros rivais de Bolsonaro consegue igualar.

O presidente Bolsonaro está mais vinculado à classe média brasileira, farta da criminalidade e corrupção do período em que o país foi governado pelo PT, primeiro por Lula e depois por sua sucessora escolhida a dedo, Dilma Rousseff.

Embora Lula se apresente como vítima de perseguição política, seu governo acabou envolvido na maior investigação de corrupção criminosa da história do país. Como parte do escândalo da Lava Jato, uma investigação começou com acusações de propinas envolvendo licitações na Petrobrás, mas se expandiu em múltiplas direções e atravessou fronteiras.

De acordo com a força-tarefa que investigou os crimes relacionados à Lava Jato, a investigação levou à devolução de mais de US$ 800 milhões ao Tesouro brasileiro e à condenação de 278 pessoas. Ex-presidentes do Peru, Panamá e El Salvador foram para a prisão. O mesmo aconteceu com Lula.

Mas Lula jamais admitiu responsabilidade pelos crimes cometidos, apesar de dever sua libertação da prisão a uma questão técnica legal. Ele insiste que é vítima de perseguição política. Isso constitui um excelente indício da espécie de campanha amarga e cáustica que o Brasil pode prever nos próximos 16 meses.

Apesar de todos os revezes e fracassos sofridos pelos dois pesos pesados políticos brasileiros, as pesquisas de opinião indicam que cada um deles conseguiu conservar o apoio de seus seguidores ferrenhos. E não há eleitores prováveis suficientes no país para que qualquer outro candidato possa emergir das duas dúzias de partidos políticos brasileiros para contestar um ou outro deles.

Enquanto isso, a Covid continua a devastar o país, a economia está mal das pernas, e ataques propagados nas redes sociais já estão inflamando as tensões políticas. Será um ano quente no Brasil.

Tradução de Clara Allain

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