Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca

A terceira via não existe

Todos os esforços de tirar a ideia do chão foram, até agora, um fracasso completo

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Duas lições das manifestações de domingo: Lula, apesar da liderança nas pesquisas, tem uma dificuldade muito grande em mobilizar eleitores. Bolsonaro, apesar de ver seus atos diminuírem, ainda é, com folga, o político que mais consegue trazer eleitores para a rua. Se isso é prenúncio de uma aproximação dos dois líderes nas pesquisas nos próximos meses, ou se Lula manterá a liderança confortável, o futuro dirá.

Independente de se achar um desses superior ao outro, é bem compreensível que alguém não se sinta representado nessa dicotomia.

Afinal, o governo Bolsonaro é um desastre completo —na educação, no meio-ambiente, na diplomacia, na saúde pública; some-se a isso o fato de inundar o país com fake news e discussões espúrias sobre maluquices ideológicas, além de atentar diretamente contra a democracia em suas falas.

Os presidenciáveis João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB) durante encontro em SP, em dezembro de 2021
Os presidenciáveis João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB) durante encontro em SP, em dezembro de 2021 - Reprodução - dez.21/@ConjunturaOnline no Twitter


Lula, por outro lado, sequer reconhece que seu partido, com ele à frente, capitaneou o maior esquema de corrupção da história deste país. Seus flertes constantes com a esquerda populista latino-americana também não são nada animadores.

Os números relativamente baixos nos atos podem indicar a baixa empolgação da sociedade com ambos. Mas o fato é que nenhum dos demais candidatos conseguiria nada próximo disso se ousasse uma convocação popular. Todos os esforços de tirar a "terceira via" do chão foram, até agora, um fracasso completo. Com a saída de Moro da corrida, seus votos reabsorvidos por Bolsonaro, o que já estava murcho esvaziou ainda mais.

Restaram Ciro, Doria e Tebet. Ciro representa a aposta no desenvolvimentismo econômico. Tem uma base fiel mas não consegue sair dela. Seu eleitorado está mais à esquerda e ele compete com Lula. Os outros dois, por enquanto, ainda não têm uma mensagem clara, mas falam muito mais à direita e competem com Bolsonaro.

João Doria deixou o governo de São Paulo com bons resultados para mostrar em várias áreas: a economia do estado se destacou do resto do país; recebeu muitos investimentos; o governo fez o ajuste fiscal; os esforços de despoluir o Rio Pinheiros parecem que, finalmente, surtiram efeito. Foi também ele o responsável pela vacina no Brasil; não fosse o exemplo de SP e o medo de perder os holofotes, Bolsonaro nada teria feito.

Simone Tebet, além dos dois mandatos bem avaliados como prefeita de Três Lagoas (MS) e vice-governadora, foi, ao longo do governo Bolsonaro, provavelmente a senadora de maior destaque na oposição ao governo. Mostrou, na CPI da Covid, a força de sua liderança; enquanto alguns senadores usavam a Comissão como palanque de discursos, Tebet mostrou ponto a ponto os absurdos e os crimes do governo.

O desafio de Doria é vencer a desconfiança do eleitorado. O de Tebet, além de se tornar mais conhecida, é mostrar que tem a garra para vencer. Neste momento, tão avançado no ano eleitoral, e saindo tão de baixo nas pesquisas, serão necessárias uma dedicação furiosa e a mais completa autoconfiança para se ter alguma chance.

Cada vez mais, a ideia de "terceira via" revela-se auto sabotadora, porque é um conceito vazio, que não representa nada. Como diz o provérbio político americano, "you can’t beat something with nothing", não dá para vencer algo se você não tem nada a propor.

Entre Bolsonaro e Doria, ou Bolsonaro e Tebet, o eleitor que votou no presidente pode escolher. Entre Bolsonaro e um apelo genérico e vazio, fica com seu voto original. Quanto mais tempo dura a indefinição das candidaturas, mais o dilema Lula-Bolsonaro se impõe. É para ontem.

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