Josimar Melo

Jornalista, crítico gastronômico, curador de conteúdo e apresentador do canal de TV Sabor & Arte

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Josimar Melo

Brasil com S, um bom recomeço

Ao aposentar a tosca logomarca bolsonarista, Embratur e Apex apontam melhor caminho

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Fui convidado, como jornalista, a ir a Brasília para o lançamento oficial —na verdade uma retomada— da Marca Brasil com S, que tem o intuito de sintetizar os novos esforços para o turismo do país.

Lamentei não poder ir ao evento organizado pela Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) e ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), pois a volta da marca chamou minha atenção por vários motivos.

Embratur recupera antiga marca Brasil com S e relança logotipo
Embratur recupera antiga marca Brasil com S e relança logotipo - Reprodução

Desde que foi lançada, em 2005, acompanhei com interesse sua escolha. Na época não escrevia regularmente sobre turismo, como hoje, mas já me aventurava neste campo em minhas viagens de gastronomia.

Ademais, minha formação é de arquiteto, portanto sensível a questões artísticas e estéticas que também envolvem o mundo das logomarcas, mesmo as comerciais. Para completar, ela foi criada pelo designer Kiko Farkas, cujo trabalho sempre acompanhei e com cuja família, a começar pelo patriarca Thomaz (fotógrafo e cineasta), sempre tive uma relação carinhosa.

São já vários motivos (além do interesse político pelos rumos do Brasil de então) para ter acompanhado a ousada movimentação que naquele momento a Embratur realizava, simbolizada numa marca gráfica.

Mas hoje é mais do que isto. Creio que a retomada da marca anterior representa mais um passo –e não só simbólico— para deixar para trás os anos de um governo criminoso que aterrorizou o Brasil.

Será que uma simples logomarca pode representar tanta coisa?

Creio que sim, da mesma forma que a anterior, implantada em 2019, conseguia –num simples desenho com um slogan— representar um momento de trevas, ignorância e truculência (pesquise e veja as duas, você me entenderá à primeira vista).

A marca que agora se retoma (com novas atualizações) foi criada em 2005, fruto de um longo trabalho. Começou com toda uma conceituação e planejamento do que deveria ser o turismo brasileiro, num projeto que implicou também na criação da marca visual, saída de um concurso do qual participaram grandes designers do país.

Apresentação do logotipo 'Brazil, visit and love us', desenvolvido pelo governo Bolsonaro
Apresentação do logotipo 'Brazil, visit and love us', desenvolvido pelo governo Bolsonaro - Embratur/ Divulgação

Para entender a diferença acachapante entre as duas marcas, basta olhá-las. Mas eu poderia resumir que a antiga, que se retoma, é a cara de um Brasil vivo, inebriante, alegre, expresso em curvas que realçam sua natureza, e ao mesmo tempo moderno e sofisticado, como pelo menos pretendemos ser.

Já a marca de 2019 foi feita a toque de caixa por funcionários do governo (certamente tão desqualificados quanto os governantes). O resultado foi uma logomarca visualmente tosca (que qualquer adolescente de bom gosto, com um programinha de desenho, faria melhor); vira-latas, com sua grafia lambe-botas (Brasil escrito com z); e, ainda por cima, com um lema ("Brazil, visit and love us") que, além de escrito num inglês infantilizado, de tradutor automático, sugere o país como destino de exploração sexual (coerente com o que disse Bolsonaro, "quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade").

Se uma logomarca pode expressar projetos e intenções, não quer dizer que seja a garantia de sua realização. A promoção turística do país evidentemente andou para trás durante a barbárie bolsonarista (quando o governo se orgulhava de ter tornado o Brasil um pária mundial). Mas mesmo antes, caminhava tropegamente, ainda mais se comparada com vários países do mundo (vide Espanha), inclusive latino-americanos (vide Peru), que conseguiram identificar e alimentar alvos certeiros. Quem sabe agora é a vez do Brasil.

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