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Juan Orlando Hernández, um presidente em busca de um destino

Tudo indica que o atual mandatário de Honduras já prepara suas malas para se refugiar na Nicarágua de Daniel Ortega

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​Dardo Justino Rodríguez

Analista, comunicador e consultor independente para organizações e agências internacionais

Na véspera das eleições celebradas em Honduras, o governo firmou um acordo com a Nicarágua sobre sua soberania no golfo de Fonseca.

O acordo implica a cessação das ações repetidas da Força Naval nicaraguense contra os pescadores hondurenhos –ações que, apesar da decisão, foram reiteradas ao longo dos anos.

Para Daniel Ortega, essa é uma maneira de ignorar tacitamente a decisão da Corte Internacional de Justiça em Haia e, para Juan Orlando Hernández (JOH), é uma forma de abrir caminho para o fim de seu mandato e para o provável início de seu processo internacional.

Um acordo com objetivos pessoais

O acordo foi recebido com absoluto silêncio por parte dos apoiadores do presidente cessante JOH e com inúmeras críticas da oposição e de setores independentes. Ele seria desnecessário, pois não faz sentido ratificar a decisão de 1992 do tribunal de Haia.

Mas ambos os governos indicaram que, dessa forma, a Nicarágua reconhece explicitamente que sua fronteira marítima no golfo de Fonseca é com Honduras e que, embora não a citem, os limites salvadorenhos terminam neste último.

O acordo foi firmado em um momento chave para ambos os mandatários.

Ortega vem de uma eleição altamente questionada a nível internacional, e JOH está enfrentando o fim de sua presidência e pensando em um possível refúgio legal. Ele e vários personagens de seu entorno temem que a Justiça dos EUA solicite sua extradição devido ao suposto vínculo com o narcotráfico.

No momento, tudo indica que a oposição vencerá as eleições presidenciais em Honduras, o que agravaria ainda mais sua situação dentro do próprio país.

O presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, que está no final de seu mandato, acena para a imprensa
O presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, que está no final de seu mandato, acena para a imprensa - Claudio Reyes - 10.mar.2018/AFP

​Uma busca febril

Diante disso, o presidente estaria buscando alternativas para refugiar-se, já que a imunidade, que lhe daria sua ascensão como deputado ao Parlacen, que automaticamente lhe corresponde como ex-presidente, não seria um escudo suficiente para fugir da Justiça dos EUA.

Nessa busca para se blindar, JOH e seus colaboradores mais próximos promoveram, nos últimos anos, as criticadas Zonas Especiais de Desenvolvimento e Emprego (Zede).

Essas Zedes, localizadas em certas zonas de Honduras, possuem um tipo de divisão administrativa independente, sujeita ao governo nacional e dotada de um alto nível de autonomia com próprio sistema político, tanto a nível judicial como econômico e administrativo.

As Zedes poderiam ser um refúgio para uma primeira etapa.

As que já estão instaladas não poderiam ser desmanteladas sem antes recorrer a instâncias internacionais, cujas decisões, mesmo que favoráveis ao Estado hondurenho, implicariam o pagamento de somas multimilionárias aos proprietários, a fim de demoli-las.

Apesar da rejeição dos cidadãos pelos municípios e entidades da sociedade civil, três das Zedes seguem adiante.

Outra possibilidade, apresentada por analistas hondurenhos, seria procurar refúgio em Israel ou em Taiwan, mas em ambos os casos o vínculo desses países com os EUA tornaria isso inviável.

Resta então o aliado mais confiável de JOH, o ex-guerrilheiro Ortega, o primeiro presidente a aceitar seu triunfo em 2013 e em 2017.

Ademais, o nicaraguense já demonstrou sua "solidariedade" com ex-parceiros em dificuldades legais, como o ex-presidente salvadorenho Mauricio Funes, que não só encontrou amparo mas também emprego no Ministério das Relações Exteriores da Nicarágua, além da nacionalidade nicaraguense.

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e o de Honduras, Juan Orlando Hernández, durante encontro em Manágua, a capital nicaraguense
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e o de Honduras, Juan Orlando Hernández, durante encontro em Manágua, a capital nicaraguense - Presidência de Honduras - 27.out.2021/Reuters

Uma nova fraude?

De todo modo, antes de se mudar para Manágua, JOH ficaria com o recurso de uma nova fraude, assim como em 2017.

No entanto, nessa ocasião, já não contaria com o aval de Washington ou da OEA (Organização dos Estados Americanos), cujo secretário geral segue à risca as "instruções" do Departamento de Estado.

Se eventualmente alguns líderes do Partido Nacional se atrevessem a cometer uma nova fraude, Ortega seria o primeiro a aceitar a situação e endossar o "triunfo".

Mas resta saber que posição o candidato presidencial nacionalista, Nasry "Tito" Asfura, assumirá.

Ele poderia se negar a fazer parte de uma fraude, não tanto por razões morais ou éticas, mas porque assumiria o posto sob grande pressão e sem o apoio que JOH teve depois de sua própria fraude.

Dada a complexidade dos diferentes cenários, é provável que a Nicarágua seja a melhor opção para o futuro ex-presidente de Honduras.

Segundo declarações do analista hondurenho Edgar Soriano ao jornal El Libertador, "o chefe do Estado hondurenho e as pessoas que o rodeiam estão colocando seus interesses pessoais em primeiro lugar a fim de cuidar de seu futuro, uma vez que seu mandato ilegal termina no início de 2022".

E, nesse sentido, o analista acrescentou que a "Nicarágua poderia ser o destino de um exílio do atual líder do Partido Nacional".

O intercâmbio "pessoal" de favores entre ambos os mandatários, pelas dúvidas, não para.

Antes das eleições nicaraguenses, Honduras se absteve na OEA de votar uma resolução pedindo a libertação imediata dos candidatos presidenciais e dos presos políticos na Nicarágua.

Além disso, em outubro, o governo hondurenho doou à Nicarágua, apesar da pobre vacinação em seu próprio país, as vacinas que foram entregues pelos EUA e instalou centros de vacinação em pontos próximos à fronteira comum, facilitando a vacinação de seus vizinhos.

Tudo isso é pura especulação, e até que o mandato presidencial de JOH termine e as investigações sejam efetivamente iniciadas, não conheceremos as verdadeiras intenções do atual presidente.

Mas é certo que tudo indica que ele já está preparando suas malas.

Tradução de Maria Isabel Santos Lima

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