Luís Francisco Carvalho Filho

Advogado criminal, é autor de "Newton" e "Nada mais foi dito nem perguntado"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Luís Francisco Carvalho Filho
Descrição de chapéu Folhajus congresso nacional

Não se vota um código eleitoral na calada da noite

Inibir publicação de pesquisas eleitorais é projeto obscurantista e persistente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Inibir a publicação de pesquisas eleitorais é um projeto obscurantista e persistente.

A Constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, decreta: “nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística”. Dias depois, o Tribunal Superior Eleitoral negou vigência à lei anterior proibindo pesquisas na eleição de prefeitos.

O primeiro ataque à nova ordem aconteceu menos de um ano depois, em junho de 1989.

Ao regulamentar a eleição presidencial, que elegeria Collor de Mello, o Congresso proibiu pesquisa trinta dias antes do primeiro turno e dez dias antes do segundo. O legislador tem o atrevimento de vetar, no dia da eleição (até 19h), noticiário de rádio de TV “referentes a candidatos e ao comportamento dos eleitores”.

O ministro Francisco Rezek (depois, sem quarentena, chanceler de Collor) definiria estes momentos de censura com ironia: “eclipse da informação”. O TSE rejeitou as restrições arbitrárias do Poder Legislativo.

Desde então, políticos profissionais e candidatos em geral costumam atribuir a pesquisas fraudulentas as suas derrotas. Em 1998, o sempre maldoso Antônio Carlos Magalhães, presidente do Senado, instaurou CPI mista para investigar “manipulações” e intimidar.

A Câmara dos Deputados, de novo, quer censurar pesquisas, agora a partir da antevéspera da votação.

O objetivo é, na reta final, excluir do noticiário informações relevantes sobre as tendências do eleitor, obtidas a partir de critérios estatísticos.

Querem que o eleitor se dirija à urna livre de influências. Não se trata de pura ingenuidade. O efeito do veto seria a proliferação em redes sociais de fake news e de números aleatórios, estrategicamente construídos e vazados pelas candidaturas.

Esta é apenas uma das profundas mudanças no Código Eleitoral que o deputado Arthur Lira, jagunço de Bolsonaro, quer aprovar na calada da noite. Não é assim que se legisla.

Já a ideia de quarentena de cinco anos para juízes, membros do Ministério Público, policiais e militares aparece como uma reforma essencial e urgente para a democracia brasileira. Tem, aparentemente, o apoio de forças políticas diversas, a favor e contra o governo.

Jair Bolsonaro quer jogar a mudança para 2026 e assim inflar ainda mais a bancada da bala e de milicianos.

Juízes e promotores não podem ter atividade partidária e se afastam (definitivamente) da carreira seis meses antes de disputar a eleição. É pouco, muito pouco.

Com policiais e militares, o sistema é mais escandaloso. O oficial ou agente se afasta temporariamente da função (sem prejuízo dos vencimentos) para disputar a eleição. Se não se eleger retorna para quartéis e delegacias como se nada tivesse acontecido.

O quadro não faz bem para a política e para a segurança pública. A receita é simples. Política partidária não deve estar no horizonte de autoridades responsáveis pela atividade jurisdicional e de agentes envolvidos na acusação, na repressão ou na investigação de crimes.

Bolsonaro politiza criminosamente o ambiente dos quartéis e das delegacias prometendo medidas populistas para isentar de punição abusos, balas perdidas, assassinatos de suspeitos e corrupção policial.

Militares existem para obedecer e não para manifestar apoio ou repúdio a determinado governante. Os que se manifestam, armados ou não, devem ser presos e expulsos da corporação. Sem complacência.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.