Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária
Descrição de chapéu Dia dos Namorados

O amor nos tempos da casalcracia

Como ex-serial monogamist, posso dizer que quem vê selfie de casal não vê coração

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Ao contrário de muitas amigas e amigos solteiros, amo o Dia dos Namorados. Nunca aderi ao discurso de que a data é uma invenção capitalista para movimentar a economia.

Criticar o Dia dos Namorados se tornou um clichê tão cafona quanto idealizar o amor romântico. Ambos causam o mesmo prejuízo, que é o desperdício de tempo. Ambos são visões superficiais de um assunto espinhoso —não é à toa que a rosa é um dos símbolos mais antigos do amor e um dos itens mais vendidos no doze de junho.

O que movimenta a economia, meus amores, é a família nuclear burguesa, a base do bom e velho capitalismo. O Dia dos Namorados acontece uma vez ao ano, mas durante os 365 dias do ano estamos submetidos a um regime totalitário que aqui vamos chamar de casalcracia. Esse sim me parece ser um alvo pertinente de críticas. É essa a invenção capitalista que nos leva a tomar decisões muito mais constrangedoras do que sair para jantar em um restaurante lotado e/ou postar uma declaração nas redes sociais.

Ilustração de um braço em que os dedos indicador e médico levantados.
Ilustração de Silvis para coluna de Manuela Cantuária de 12 de junho de 2023 - Silvis

Ah, como eu amo as redes sociais no Dia dos Namorados. É o puro suco do entretenimento barato, como assistir a uma novela mexicana sem qualquer compromisso com a realidade, ao mesmo tempo em que suscita reflexões culturais, sociais e psicológicas que rendem uma tese de doutorado. Fora a oportunidade de celebrar o genuíno e proporcionalmente raro amor entre pessoas que você admira e das quais gosta.

A necessidade de validação da maioria dessas postagens não me incomoda. Como uma ex-serial monogamist, posso dizer que quem vê selfie de casal não vê coração. O que me comove nessa data são as lamúrias de parte da comunidade solteira que escancaram ainda mais a ferida da casalcracia, em que esse status civil é reduzido a um fracasso retumbante.

Sempre que me vejo diante de alguém que diz logo de cara que procura um relacionamento sério, corro para as colinas. Não por desprezo ao ato de me relacionar, pelo contrário, por profundo respeito. Porque a partir daí você entende que não está mais num encontro, e sim numa etapa de um processo seletivo. O que era para ser uma comédia romântica vira uma dancinha do acasalamento no TikTok em que um flanelinha gesticula desesperadamente para que alguém ocupe aquela vaga —e também não tem graça nenhuma.

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