Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcos de Vasconcellos

Ninjas soltam bomba na Bolsa de Valores

Empresa GetNinjas quer distribuir o dinheiro que tem em caixa para seus acionistas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Como os ninjas dos programas de televisão, a GetNinjas (que se pretendia um Uber dos prestadores de serviço) lançou uma bomba de fumaça que desnorteou os investidores nesta semana. A empresa quer distribuir o dinheiro que tem em caixa para seus acionistas, em uma operação para reduzir seu capital em cerca de 66%.

Funciona assim: a companhia embolsou R$ 482 milhões em maio de 2021, quando fez seu IPO, a oferta inicial de ações na Bolsa. Agora, simplificando, disse que não tem nada melhor para fazer com R$ 223 milhões, que continuam no caixa, e vai distribuí-los, pagando R$ 4,40 para quem tiver a ação.

Será parecido com uma superdistribuição de dividendos, mas não porque a empresa conseguiu bons resultados e quer dividir isso com seus investidores. É porque ela desistiu do sonho de usar esse dinheiro para expandir suas operações.

Bolsa de Valores de São Paulo - Amanda Perobelli/Reuters

Os papéis NINJ3 chegaram ao mercado vendidos a R$ 20, há menos de dois anos e meio. Quem acreditou que ela tinha potencial para virar uma gigante de tecnologia e comprou as ações no IPO, levou tombo atrás de queda e hoje tem nas mãos um papel negociado na casa dos R$ 4,60.

Somando o preço da ação e o valor que poderá ser pago nessa redução de capital, chega a R$ 9, que ainda é menos da metade do preço na oferta inicial.

A justificativa da GetNinjas para propor esse movimento, que precisa ser aprovado em assembleia, foi equilibrar a sua efetiva necessidade financeira e a capacidade de gerar valor a seus acionistas, após mudanças no plano de negócios. Em outras palavras: acreditam que é melhor seus investidores colocarem essa grana para render em outro lugar.

Está certo que o mundo mudou rápido nos últimos anos, mas convenhamos que o IPO dos ninjas foi no meio de 2021. Não dá para colocar a culpa da mudança de posicionamento na pandemia, que se alastrou mais de um ano antes. A escalada da Selic também começou antes da oferta inicial, em março daquele ano. Nem dá para falar de um desabamento geral do mercado, já que o Ibovespa hoje está cerca de 5% abaixo do que estava quando a GetNinjas chegou à Bolsa.

Nós passamos, no mercado financeiro, pela grande chacoalhada nas empresas de "growth", ou seja, as que dependem de crescimento acelerado para chegar ao ponto de equilíbrio. As gigantes de tech fazem muito isso. Gastam montanhas de ouro em marketing, aquisição de concorrentes e de companhias que possuem ativos que lhes interessam, até tornarem-se rentáveis. Quando as torneiras de dinheiro se fecham antes do planejado, não conseguem chegar no ponto imaginado.

Nesse caso, entretanto, o caminho é o oposto. A empresa tem o dinheiro, mas não enxerga nenhuma chance de ter um crescimento expressivo com ele, para dar retorno aos acionistas. Em entrevista ao site Brazil Journal, o CEO da GetNinjas, Eduardo L’Hotellier, justificou: é melhor distribuir o dinheiro assim do que usar "de maneira que não contribua a todos os acionistas, como já vimos vários casos no mercado, com os sócios usando recursos da companhia para benefício próprio".

Em abril do ano passado, sua opinião era diferente. Ao podcast "Do Zero ao Topo", o mesmo L’Hotellier disse que comprar as ações da empresa valendo menos do que tinha em caixa era "uma oportunidade para quem acredita que nossa plataforma será bem-sucedida, que usaremos o caixa para gerar negócios". Não usaram. E desistiram de tentar.

As ondas de estreias no mercado financeiro, chamadas janelas de IPO, vêm e vão. Com os sucessivos cortes nos juros, é esperado que tenhamos outras em breve. Mas tentar surfar uma dessas é sempre arriscado.

Mais do que um bom marketing, é preciso entender quando e como o negócio no qual você quer investir se tornará sustentável, gerando valor para seus acionistas.

Claro que perdas e frustrações fazem parte da vida de quem investe em renda variável. Ela varia mesmo. Mas é importante usar essas lições para lembrar que promessas de retornos astronômicos e soluções mágicas só servem para quem vende esquemas de pirâmide.

Investir no mercado de ações é tornar-se sócio de uma empresa. E quem se associa a algo que não compreendeu bem está mais sujeito a levar sustos no caminho.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.