Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Descrição de chapéu Dia dos Namorados

Nem sempre é um tapinha o que dói

Uma relação mergulhada em manipulação e chantagem pode não deixar marcas no corpo, mas mutila a alma de sua vítima

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Dia dos Namorados chegando e essa explosão cafona, mas muito bem-vinda, de demonstrações públicas de afeto. Antes isso do que as patotas de haters cada vez mais à vontade nas redes sociais. Mas quem vê emoji de coração não imagina que a data carregue uma estatística mais real e triste do que o clima de "o amor está no ar" que nos asfixia perto do 12 de junho ou no 14 de fevereiro, em outras partes do mundo. É uma das datas em que a violência doméstica aumenta, segundo uma pesquisa da Universidade de Calgary, no Canadá.

Eu me perguntei como isso poderia acontecer justamente num momento em que os casais, em teoria, estreitam laços, reafirmam compromissos, valorizam a relação que vem sendo construída. Segundo o que li, é também daqueles momentos em que o consumo de bebida alcoólica aumenta e, infelizmente, a violência. Somem-se a isso humores mais sensíveis, expectativas frustradas, divergências vomitadas. Receita perfeita para a brutalidade.

Violência doméstica: ilustração de uma mulher chorando dentro de uma gaiola
Rosy por Pixabay

Mas há um outro tipo de violência que ainda carece de mais estatísticas para que tenhamos um panorama realista sobre a situação da mulher. Nem sempre é um tapinha o que dói. Uma relação mergulhada em manipulação e chantagem, por exemplo, causa danos emocionais que podem não deixar marcas no corpo, mas mutilam a alma de suas vítimas.

De uns anos para cá, começamos a entender que em briga de marido e mulher se mete a colher, sim. Não podemos mais nos fingir de surdos ao ouvir pedidos de socorro, assim como devemos gritar tanto quanto as vítimas. O que ainda temos dificuldade de lidar são com as situações em que a violência é silenciosa, quando o abuso não é físico, mas moral. Você certamente conhece alguém que vive uma relação tão contaminada que perde a cor, parece triste, é constantemente criticada, enganada, maltratada pelo parceiro, mas confunde todos esses sinais como proteção, amor, acredita que casamentos ou namoros são assim. Eu já fui essa pessoa e hoje reconheço de longe casais romanticamente desequilibrados. Mas nem sempre sei como estender a mão ao perceber que tem alguém que precisa.

É um compromisso que temos que assumir como sociedade e que precisa ser abraçado principalmente por empresas que têm a mulher como seu principal consumidor. No Brasil, já vimos iniciativas de gigantes como Avon, Marisa, Magazine Luiza lançarem canais para denúncias, mas que oferecem de suporte jurídico a abrigo temporário.

Agora é a vez da Yves Saint Laurent Beauté trazer ao país a campanha "Abuso Não é Amor", que começou em 2020, nos Estados Unidos, França e Reino Unido. Por aqui a parceria é com o Instituto AzMina e o objetivo é estimular o debate sobre os nove sinais mapeados que apontam para um relacionamento abusivo. A marca escolheu o 12 de junho para o lançamento da campanha e parece simbólico tratar de violência numa data em que os números mostram que ela aumenta.

Além da ativação do site www.abusonaoeamor.com.br, haverá comunicação espalhada em relógios de rua, terminais de metrô, trem e ônibus, salões de beleza e nos principais shoppings do Rio e de São Paulo. O aplicativo PenhaS, recurso usado para denúncias, também compartilhará informações e serviços públicos de atendimento para as vítimas, além de suporte e orientação para quem estiver disposto a ajudar mulheres em situação de violência.

É responsabilidade de todos nós romper o ciclo que se perpetua. Muitas mulheres não se dão conta de como estão mergulhadas em relações doentes porque não entendem como agressão a manipulação a que são submetidas. As pessoas ao seu redor tampouco ou não sabem como ajudar. A campanha da YSL traz nove sinais para que as vítimas possam reconhecer quando o abuso se fantasia de amor e orientações para que se forme uma rede de apoio nessa luta.

Nove sinais de abuso emocional:

  1. Ignorar: o abusador usa a própria raiva como uma oportunidade para punir seus parceiros, ignorando-os propositalmente
  2. Chantagear: o abusador diz que vai abandonar a pessoa ou expor segredos se não fizer algo ou recusar algo
  3. Humilhar: o abusador insulta o parceiro, fazendo-o se sentir mal
  4. Manipular: o abusador usa os sentimentos do parceiro para que eles ajam de acordo com seus interesses
  5. Mostrar ciúmes excessivo: o abusador suspeita de tudo que o parceiro diz ou faz, além de querer atenção total
  6. Controlar: o abusador controla o parceiro, o que veste, o que faz, lugares que frequenta, pessoas com quem se relaciona
  7. Intrusão/ou intromissão: o abusador se intromete em questões pessoais do parceiro, decisões sobre trabalho, vasculha mensagens ou redes sociais
  8. Isolar: o abusador isola o parceiro da família e amigos
  9. Intimidar: o abusador controla o parceiro por meio do medo

Fonte: www.abusonaoeamor.com.br

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