Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

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Matias Spektor

Caldeirão dos sonhos

Crédito: Eduardo Anizelli/Folhapress SAO PAULO, SP, BRASIL, 20-10-2017, 12h30: O apresentador Luciano Huck, durante palestra no Festival de Cultura Empreendedora, em Sao Paulo. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVO***
O apresentador Luciano Huck durante palestra em São Paulo

Sempre houve motivos para duvidar das chances eleitorais de Luciano Huck. Faltam fundo partidário, tempo de propaganda oficial na TV, mobilização para rebater a fúria dos bolsominions nas redes sociais e para impedir que a eleição vire um plebiscito sobre a Rede Globo. Desde domingo, essas dúvidas ganharam força.

O Faustão cravava 20 pontos de audiência quando veiculou cenas de Huck e Angélica discutindo política. Isso equivale a 14 milhões de telespectadores.

Huck fez uma referência genérica à corrupção, mas não ofereceu substância. Os 14 milhões continuam sem saber qual é a sua agenda. Em vez disso, Huck usou e abusou de um verbo que gosta de repetir cada vez que fala em público: "ressignificar".

Nunca fica claro o que a expressão significa. Sabe-se que virou moeda corrente em grupos de renovação política nascidos no eixo Leblon-Vila Madalena na esteira do impeachment. Sabe-se também que o mote promove a criação de um novo homem para participar da esfera pública. Mas ninguém explica como.

Huck pode estar só fugindo do confronto, mantendo sua pólvora seca para depois. Mas se comprou a ideia da ressignificação, então cometeu um equívoco.

Em primeiro lugar, a conversa é estéril e rouba o tempo escasso de que ele dispõe para virar o candidato pró-mudança.

Segundo, um Luciano presidente só conseguirá implementar uma agenda de reformas se tiver mandato popular claro para barrar os abusos de sua própria base aliada. Os caciques de PPS, DEM, PMDB e PSDB que venham a apoiá-lo não demorarão em cobrar pedágio e tentar barrar reformas. Esse grupo quer de tudo, menos mudança. Trata-se de gente que sobrevive na política distribuindo privilégios a uns poucos grupos de interesse enquistados no Estado.

Para sua presidência não ser um fracasso antes de começar, Huck precisaria já de um mote de campanha que fale às claras com o eleitor, sem firula nem confusão. FHC fez suas reformas impondo à própria base aliada a pauta do combate à inflação; Lula fez o mesmo com o combate à desigualdade. Temer, cuja agenda não foi aprovada nas urnas, não precisa disso: sobrevive graças ao pacto nacional, com o Supremo e com tudo.

A agenda do candidato reformista que o Brasil precisa em 2018 é clara: combate às causas estruturais da corrupção endêmica como mecanismo para recuperar o emprego e a renda perdidos.
Sem obter nas urnas um claro mandato popular para implementar a dura agenda de mudanças, Huck será engolido pelas velhas raposas da política.

A "ressignificação" é o caminho da derrota.

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