Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Com Al Pacino, série sobre caçadores de nazistas ganha nova temporada

Último episódio, 'O Julgamento de Hitler' reverbera nos dias atuais

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Quando foi lançada, em fevereiro de 2020, a grande atração de "Hunters" era a presença de Al Pacino no elenco. Figura raríssima em séries de televisão, o grande ator foi um dos protagonistas da história centrada nas aventuras de um grupo de caçadores de nazistas, em ação nos Estados Unidos, em 1977.


Como escrevi na ocasião, ainda que se dissesse inspirada em fatos reais (o acolhimento de oficiais nazistas nos EUA no pós-Guerra), "Hunters" se mostrou uma fantasia desvairada, com muitos toques de humor mórbido e uma narrativa que parecia inspirada em história em quadrinhos de super-heróis.

Atenção: quem prosseguir na leitura a partir daqui vai conviver com spoilers.

Ignorando qualquer preocupação com a verossimilhança, a temporada inicial terminava com duas bombas difíceis de assimilar.

Primeiro, a morte de Meyer Offerman (Pacino). O empresário que financia e lidera o grupo de caçadores de nazistas foi, na verdade, um agente da SS nazista e roubou a identidade de um judeu ao se refugiar nos EUA.

Segundo, a descoberta de que Hitler havia sobrevivido à Segunda Guerra e estava passando os seus dias em um refúgio na Argentina.

Assim como outros espectadores, eu havia entendido a revelação de que Hitler não morreu como uma metáfora nada sutil, mas válida para os dias atuais.

Abstraindo todo o delírio da primeira temporada, restava a ideia de que a série colocou uma lente sobre temas infelizmente contemporâneos, como a força da extrema direita em diferentes lugares do mundo e a proliferação de grupos neonazistas e de defensores da ideia de supremacia branca, entre outros conceitos racistas e antissemitas.

Houve, porém, quem levasse a sério a isca deixada pelos roteiristas e convencesse os produtores a apostar numa segunda temporada. E, assim, três anos depois, "Hunters" está de volta, trazendo o líder do Terceiro Reich vivíssimo (encarnado pelo ator alemão Udo Kier).

Mas como lidar com o fato de que a maior atração da série, o personagem vivido por Al Pacino, havia morrido? Contando uma história em dois tempos. Eis a ginástica mal-ajambrada que "Hunters" oferece agora, explorando em flashbacks os percalços da vida dupla de Meyer Offerman em 1977 e, em outro plano, a caçada a Hitler, em 1979.

O grau de maluquice do esquadrão caçador de nazistas permanece alto e o humor dos realizadores segue afiado. Eva Braun é uma espécie de "coach de Hitler. Há referências cinematográficas variadas, incluindo uma boa piada com "A Noviça Rebelde".

Um tema tratado seriamente, e que reverbera no mundo atual, é o da fluidez da Justiça. Após dois anos de investigação, uma agente do FBI descobre que um famoso bispo católico americano é, na verdade, um padre alemão que colaborou com o regime nazista.

O juiz do caso considera fracas as provas trazidas pelo FBI e solta o acusado. "No meu tribunal, não ajo com base no que é certo, mas no que está na lei. A lei é justa? Meus sentimentos não importam. Você quer justiça? Deveria ter me trazido um caso melhor".

Revoltada com a decisão, a agente federal decide aderir ao grupo de caçadores de nazistas, que faz justiça com as próprias mãos.

Assim como a primeira, esta segunda temporada traz oito episódios bastante irregulares. O penúltimo, inteiramente dedicado a um flashback da década de 1940, é surpreendente e divertido. E o último, intitulado "O Julgamento de Hitler", justifica o esforço de ir até o fim.

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