Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Michael França

Boa aparência pode levar a maior rendimento no mercado de trabalho

Ideal de beleza vai muito além dos fetiches, sexuais ou não

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Em 1965, Elliot Jacques criou o termo "crise da meia-idade" para descrever a sensação de insegurança e conflito existencial que muitos de nós sentimos quando a idade avança e a juventude vai ficando distante. O corpo enfraquece. As marcas do envelhecimento se fazem cada vez mais presentes. Vários entes queridos ficam com a saúde debilitada. Muitos se vão.

A rotina e a mesmice trazem um recorrente questionamento sobre a forma pela qual moldamos nossas trajetórias. A monotonia do cotidiano tende a gerar uma insatisfação generalizada e levar a rupturas na carreira, nos relacionamentos e a outras mudanças drásticas em nossos modos de vida.

Esse cenário foi protagonizado por Lester Burnham (Kevin Spacey), personagem central de um grande filme lançado em 1999. O drama "American Beauty" ("Beleza Americana"), além de retratar uma expressiva densidade emocional, representa uma bela sátira aos valores da classe média dos Estados Unidos.

Na obra, Burnham, aos 42 anos de idade, se via em pleno vazio existencial. Havia por parte dele uma frustração com a carreira. Seu casamento com Carolyn Burnham (Annette Bening), uma mulher materialista, não ia bem. Então ele resolve quebrar a apatia de seu cotidiano.

Momento em que ele passa a cuidar mais da aparência. Momento em que também começa a ter fantasias sexuais por Angela Hayes (Mena Suvari), uma adolescente magra, branca, de cabelos lisos e loira. Insegura internamente, mas totalmente segura do desejo que desperta nos homens, Hayes é o símbolo do que seria, por muitos, o ideal de beleza.

A atriz Mena Suvari como Angela Hayes em 'Beleza Americana', de Sam Mendes - Divulgação

Ideal que não é imutável ao longo do tempo. Aquilo que é considerado belo é produto de processos culturais que criam no imaginário coletivo normas estéticas. Normas essas que são incorporadas gradativamente pela população. Por sua vez, o padrão de beleza gerado por esses processos não é neutro.

No mercado de trabalho, a beleza também se faz presente. Resta saber em qual magnitude. No artigo "Beauty and the labor market", os pesquisadores Hamermesh e Biddle procuraram contribuir para o assunto. Eles encontraram evidências sugerindo que a boa aparência leva a maiores rendimentos.

De acordo com o estudo, os efeitos seriam equivalentes entre os gêneros. Entretanto, mulheres consideradas pouco atraentes, segundo as avaliações de entrevistadores, tinham taxas de participação na força de trabalho mais baixas e tendiam a se casar com homens com menor capital humano.

Outros estudos também encontraram evidências reforçando a concepção de que a atratividade física tem significativos desdobramentos sobre a vida social. De uma forma geral, tem-se que o ideal de beleza vai muito além dos fetiches, sexuais ou não, que muitos vão ter na meia-idade.

Nesse contexto, o que é visto como belo pela sociedade é apenas mais um elemento que faz com que o status social alcançado por cada indivíduo não seja simplesmente um reflexo de seu esforço e de sua capacidade, mas faz parte do produto de uma construção social que colocou determinados grupos em posições de expressivas vantagens.

Reconhecendo a importância de contribuir para uma agenda que desenvolva mecanismos que empoderem as pessoas, para que os resultados alcançados em suas vidas não sejam severamente impactados por fatores que estão fora de seu controle, criamos o Núcleo de Estudos Raciais do Insper (Neri), no fim de 2020.

No dia 15 de setembro, teremos o nosso segundo encontro anual, cujo nome escolhido foi "A cor da desigualdade". Não menos importante, após o evento teremos um happy hour no restaurante palestino e centro cultural Al Janiah. Assim, convido todos os leitores e leitoras a estar conosco nesse grande dia.

O texto é uma homenagem à música "American Beauty", de Thomas Newman.

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