Depois do bate-boca ocorrido entre senadoras da bancada feminina e governistas na quarta (5) durante a CPI da Covid, a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas elaborou um manifesto em que critica a composição integralmente masculina da comissão. Segundo o grupo, a ausência é mais uma das expressões da exclusão das mulheres da política.
"[A CPI] faz mais do que reproduzir a aguda sub-representação das mulheres na política brasileira. Trata-se de uma completa exclusão, que não respeita nem sequer a representação atual das mulheres na Casa", afirma o manifesto. "Com o início dos trabalhos, a ausência se converteu em silenciamento explícito das senadoras", segue.
A CPI da Covid é formada por 11 titulares e sete suplentes —todos são homens. No Senado Federal, apenas 12 dos 81 integrantes são mulheres.
"A pandemia atinge as mulheres de maneira específica. Elas são maioria entre profissionais da saúde que estão na linha de frente do atendimento às pessoas, mas suas vozes têm estado ausentes nos comitês de gestão da pandemia", afirma a Rede Brasileira de Mulheres Cientistas.
Lançado em abril deste ano, o grupo busca impactar as políticas públicas em meio à Covid-19 levando em conta a especificidade dos efeitos da crise sanitária sobre as mulheres. A rede já publicou notas técnicas sobre profissionais mulheres do SUS durante a epidemia, a morte de grávidas e puérperas por causa do coronavírus e sobre a ausência de estratégia de testagem para o vírus no país.
As senadoras não foram indicadas por nenhum partido para compor a CPI da Covid, por isso reivindicaram e conquistaram na terça (4) o direito à fala como titulares após acordo.
Durante o depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich na quarta-feira, porém, o líder do centrão Ciro Nogueira (PP-PI) contestou a decisão depois de a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) ser chamada para interrogar Teich, interrompendo sua fala.
"Se foi um erro das lideranças não indicarem as mulheres, a culpa não é nossa", afirmou Ciro Nogueira.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) replicou posteriormente. "Há uma grande diferença de privilégio e prerrogativa. Privilégios são inadmissíveis num Estado de Direito, e as mulheres desta Casa nunca vão pleitear. Prerrogativas são diferentes. Nós pedimos ao plenário desta comissão, na data de ontem [terça-feira], que pudéssemos ter direito a uma fala na lista dos titulares, na lista dos suplentes", disse.
Leia, abaixo, a íntegra do manifesto da Rede Brasileira de Mulheres Cientista:
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.