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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Indústria lamenta saída de Moro e pede foco para conter alta do dólar sobre importados

Disparada do dólar é um 'verdadeiro desastre', diz sindicato de farmacêuticas

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São Paulo

A disparada do dólar causada pela saída de Sergio Moro do governo preocupa setores da indústria brasileira que dependem de matéria-prima importada, em um momento de turbulência já acentuada pela crise do cornavírus.

Para as farmacêuticas, "é um verdadeiro desastre", segundo Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma (que reúne grandes companhias do setor). "Os insumos farmacêuticos são importados, os fretes internacionais mais que triplicaram, nosso reajuste de preços foi postergado, ou seja, os resultados serão fortemente afetados porque dificilmente haverá recuperação de margem neste ano", diz Mussolini.

A preocupação de José Ricardo Roriz, vice-presidente da Fiesp e presidente da Abiplast (associação da indústria de plásticos) é que a instabilidade provocada sobre o câmbio com a saída de Moro se soma ao período já difícil da crise do coronavírus.

"Já não chega a instabilidade da pandemia, que é uma surpresa muito grande para todos. O enfrentamento dela é um improviso porque não tem nada no passado que possa balizar a tomada de decisões, e ele pega e joga mais gasolina na fogueira para piorar a instabilidade. É uma surpresa atrás de outra. Não podemos viver desse jeito sem colocar foco para resolver o problema dessa crise", diz.

Roriz afirma que Bolsonaro deveria adiar qualquer medida que não tenha foco no combate à doença. Para ele, o presidente está errando mais uma vez e no momento inapropriado.

"Ele está criando um constrangimento para os dois pilares do governo dele. Um é com Paulo Guedes, quando ele lança esse Plano Marshall que saiu sem discutir com ninguém. E o segundo é criar um problema grave com o Moro, que é um outro pilar dele. Um foi [para o governo] para enfrentar o problema de corrupção, e o outro foi para dar uma guinada na economia do país. Todo mundo que votou nele foi muito pelo combate à corrupção e a guinada na economia", afirma Roriz.

Outro aspecto que joga mais dúvidas no cenário é o rearranjo do governo Bolsonaro se reunindo com forças do centrão no Congresso. "Enquanto o mundo todo está com foco em uma solução para a pandemia, o governo está com foco em politicagem que a gente já conhece do passado que não traz segurança para nenhum investidor", diz ele.

Paulo Camillo Pena, presidente da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), também afirma que o país já tem problemas demais para entrar em turbulências políticas. "Lamento que efeitos externos estejam drenando a energia do governo", diz Penna. "E o ministro Moro tem inegável prestígio junto à população", afirma.

O câmbio é um sinal importante para a indústria do cimento porque ela tem um conjunto de insumos dolarizados, além de não exportar o produto, segundo Penna. "Ele pode ser importado ou nacional, mas o produto premium é importado. Cerca de 50% é importado. Se tem uma variação de preço significativa neste insumo, o impacto é importante", diz.

José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), diz estar estupefato, esperando para ver o que vai acontecer. "O problema hoje não é o preço, é a falta de mercado."

Com Filipe Oliveira e Mariana Grazini

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