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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu São Paulo África

Turismo gay fatura mais que Pão de Açúcar

Diretor global de maior associação de turismo e negócios LGBTQ+ afirma que Brasil já concentra 10% das receitas globais

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Brasília

Há quase duas décadas promovendo roteiros turísticos pelo Brasil, Leandro Aragonez assumiu a diretoria global de parcerias da IGLTA, a maior liga de promoção de turismo e negócios LGBTQ+ do mundo. Mesmo com recordes de ataques e homicídios a homossexuais e transgêneros, o Brasil desponta como um dos mais atraentes destinos, concentrando 10% dos negócios globais do segmento, o equivalente ao faturamento anual do Grupo Pão de Açúcar. Em parceria com a Embratur, a organização agora vai turbinar locais que hoje contam com políticas de inclusão.

Leandro Aragonez, diretor de engajamento de parcerias globais e patrocinadores da IGLTA (International LGBTQ+ Travel Association)
Leandro Aragonez, diretor de engajamento de parcerias globais e patrocinadores da IGLTA (International LGBTQ+ Travel Association) - Divulgação

Por que o Brasil cresce tanto, mesmo com índices alarmantes de homofobia?
Ao mesmo tempo em que se destaca como um dos países que mais mata transgêneros, o Brasil também promove políticas de inclusão por meio de diversas secretarias estaduais. Locais como Pipa, no Rio Grande do Norte, e estados como São Luís (MA), Fortaleza (CE), Bahia, Mato Grosso do Sul, além de São Paulo e Rio de Janeiro, têm ampliado suas políticas de respeito e inclusão. A própria Embratur passou a monitorar esse segmento para desenvolver políticas públicas voltadas à promoção desses novos destinos LGBTQ+.

Este é um negócio lucrativo?
O turismo LGBTQ+ cresce cerca de 7,6% ao ano e representa de 10% a 20% do turismo global, que movimenta cerca de US$ 1 trilhão por ano. Desse total, o Brasil concentra de 10% a 15%, o que representa algo entre R$ 20 bilhões e R$ 35 bilhões. A média de gastos desses turistas é muito superior à dos demais, elevando a margem para algo em torno de 30%.

Esses dados são precisos?
O número pode ser ainda maior, pois muitos turistas não se declaram abertamente como gays, por exemplo, ao viajar para destinos conhecidos, mas inseguros, como Malásia, Maldivas, Egito, Abu Dhabi ou Arábia Saudita.

Por que a média de gasto dos turistas LGBTQ+ é mais elevada?
Para garantir mais segurança durante as viagens, esses turistas preferem pagar mais e se hospedar em redes como Hilton e Hyatt, que têm políticas globais de inclusão, pois sabem que lá estarão seguros. Atualmente, 60 países ainda criminalizam a homossexualidade, sendo 15 imputando a pena de morte.

Promover a inclusão não gera mais reações contrárias?
Quando uma campanha de grande alcance é feita, é esperado que também surjam reações negativas. Apesar de observarmos uma aceitação maior, principalmente em países com um nível de educação mais elevado, sempre esperamos reações contrárias. Nos EUA, mais de 500 projetos de lei contra a comunidade foram criados só no ano passado. No entanto, não há outro caminho. Existem gays em países da África e do Oriente Médio, e não podemos ignorá-los. Por isso, a IGLTA (Associação Internacional de Turismo LGBTQ+) tem uma rede de relações em mais de 80 países e com mais de 13 mil empresas. A solução é através do diálogo, buscando um meio-termo.

Como isso funciona na prática?
Morei em Angola quando trabalhei para o Ministério do Turismo. Em 2016, o governo daquele país queria diversificar a economia devido à crise do petróleo, apostando no turismo. Naquela época, a comunidade LGBTQ+ era criminalizada. O movimento pelos direitos humanos ajudou muito a criar uma abertura. Em 2019, a criminalização foi abolida, o que abriu novas possibilidades de negócios no turismo. Nas Maldivas, a American Express me procurou para promover o destino como um roteiro "friendly". Eu disse que o país era muito restritivo a gays e à comunidade LGBTQ+ e que o melhor caminho seria começar pelos resorts, que já estavam interessados.

Qual sua posição sobre boicotes a empresas que não respeitam os LGBTQ+?
Nosso princípio é o diálogo para a inclusão. Evidentemente, as empresas que são "friendly" têm hoje a preferência do público LGBTQ+, mas, aos poucos, a missão da IGLTA é ampliar esse ambiente de inclusão ao redor do mundo.

É por isso que, em destinos mais perigosos, vocês começam pelas bordas, como nos resorts das Maldivas?
Exatamente.


Raio-X | Leandro Aragonez

Formado em administração de empresas, atuou no marketing de gigantes como Nestlé e CVC. Engajou-se com o turismo e, pela Promo Marketing Inteligente, 'vendeu' destinos brasileiros para secretarias estaduais e, depois, para Embratur. Foi consultor do Ministério do Turismo de Angola. Hoje é diretor global de parcerias e patrocínios da IGLTA

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