Sou da geração que lutou muitas lutas e ainda trava outras várias, sempre procurando protagonizar a favela em espaços de decisão e pautando nossa agenda como plataforma de potência, rompendo paradigmas impostos que nos reduzem às tragédias e carências.
Procurando mostrar que avanços devem ser sempre comemorados como forma de inspirar, motivar e construir rituais em torno de conquistas. E, assim, ir habitando o nosso imaginário de sonhos, ambições e possibilidades.
No últimos tempos, uma das muitas questões que me estimularam e me enchem de entusiasmo foi o fato de o debate histórico sobre o papel de estátuas e heróis nacionais emplacados pela história oficial estar na pauta política, pois carrega muitas reflexões importantes e fundamentais em prol da construção de uma narrativa dos que fizeram o país mas nunca tiveram oportunidade de reconhecimentos e destaque.
É em São Paulo, a última a abolir a escravidão, que uma mudança de percurso na construção de um novo imaginário das potências de pessoas pretas está em curso como resultado de uma construção coletiva e como incorporação de uma agenda preta pelo poder público municipal.
Na cadeira em que Mário de Andrade sentou, hoje quem ocupa o cargo, escalada pelo prefeito Ricardo Nunes, é a secretaria de Cultura Alinne Torres, uma mulher preta, filha da Zona Leste. É ela quem está inaugurando estátuas de pessoas negras por toda a cidade.
São personagens heróicos que, no seu tempo, revolucionaram suas áreas; gente que foi apagada e ou invisibilizada por um enredo que nega a contribuição de pessoas pretas ao país. Mas essas pessoas, durante os 522 anos de existência deste país, deram enormes contribuições e trabalharam muito por ele.
As personalidades são a escritora Carolina de Jesus, o compositor Itamar Assumpção, a matriarca do samba Madrinha Eunice, o compositor Geraldo Filme e Adhemar Ferreira da Silva, este último, primeiro bicampeão olímpico do país, primeiro atleta sul-americano bicampeão olímpico em eventos individuais, recordista mundial do salto triplo cinco vezes e primeiro atleta a quebrar a barreira dos 16 metros nessa prova.
Sabemos o peso que essas escolhas têm, o valor que significam essas conquistas num país que exalta sempre pessoas oriundas da colônia, nomes ligados à ditadura e personagens sempre ligados ao poder instituído.
A história como a conhecemos atualmente não inclui a nossa participação nem as nossas realizações. É necessário portanto reescrevê-la, refazer suas narrativas , disputar o passado e ocupar o presente, serenando o futuro.
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