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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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A seleção na encruzilhada

Futebol brasileiro está na linha tênue entre se revigorar e desaparecer da elite

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Fernando Diniz estreia como 35º treinador da seleção. Pela primeira vez, um novo período se inicia no Norte do país, em Belém, carismática capital do Pará, que não recebe o escrete há 12 anos.

As estreias de técnicos costumavam acontecer no Maracanã. Nos últimos 20 anos, Parreira começou na China, Dunga em Oslo, Mano Menezes em Nova York, Felipão em Londres, Tite em Quito.

Fernando Diniz durante a Copa Sul-Americana, em Santos
Fernando Diniz durante a Copa Sul-Americana, em Santos - Carla Carniel-12.ago.21/AFP

Simbólico Diniz debutar em Belém, uma semana depois do lançamento de "A Amazônia na Encruzilhada", profundo livro de Miriam Leitão sobre a fronteira de nossa geração, entre respeitar o meio ambiente ou ver a humanidade correr o risco de desaparecer junto com tudo o que destruiu.

O futebol brasileiro está na mesma linha tênue entre se revigorar ou desaparecer da elite. Tenta voltar a respirar onde já se chamou pulmão do mundo e com ideias capazes de surpreender e encantar jogadores que atuam na Europa.

Fernando Diniz foi estudado pelo colunista Rory Smith, no The New York Times, e chamado de apositional style (estilo não posicional). Escrevia que o técnico do Fluminense dava este nome a seu sistema, o que não é bem verdade, porém suficiente para fazer um grande veículo de imprensa aprofundar-se sobre a teoria de um técnico brasileiro.

Só Zagallo, pela Copa de 1970, e Telê Santana, pela magia de 1982, foram capazes de despertar tal curiosidade. Os treinadores do Brasil iam ou vão para o exterior pela capacidade de ensinar a técnica, não a tática. Razão pela qual a primeira leva de investimentos do Oriente Médio contratou Rubens Minelli, além dos dois citados acima.

Fernando Diniz pode vir a ser a antítese de Pep Guardiola. Não como foi José Mourinho, defesa x ataque, nem Jurgen Klopp, gegenpressing (contrapressão) x pressão-posse de bola.

Guardiola é posicional e Diniz, não.

Mesmo que possa adotar posturas contrárias às suas crenças, como o Fluminense fez contra o Olimpia, no Maracanã, linha de cinco atacantes em quadrantes definidos, para espaçar a defesa paraguaia.

Ninguém tem certeza se Fernando Diniz chegará a este nível de requinte, de ser estudado na Europa, como já foi nos Estados Unidos: "Não sei como joga", confessou o jornalista Jonathan Wilson, em conversa pessoal nesta semana.

Wilson é colunista do The Guardian, em Londres, autor de "A Pirâmide Invertida", história do futebol a partir dos sistemas táticos. Jonathan já disse que o Brasil era um polo de conhecimento e de estratégias de ataque até a década de 1970.

Diniz não é melhor nem pior. É diferente. Foge da corrente e do comum. Era o que o Brasil fazia, quando era referência.

Os jogadores daqui ainda são.

O jogo brasileiro não é.

Importante pensar sobre as razões. Da geração 2002, só Rogério Ceni virou técnico, Ricardinho e Belletti tentaram. Entre os argentinos que estavam naquela Copa sob o comando de Marcelo Bielsa, tornaram-se treinadores importantes: Mauricio Pocchettino, Diego Simeone, Marcelo Gallardo, Hernán Crespo e Matías Almeyda.

Entre os que também trabalharam com Bielsa, estavam Lionel Scaloni e seu assistente Pablo Aimar, campeões mundiais no Qatar. É como se a geração argentina gostasse do jogo e a brasileira, de jogar.

Fernando Diniz privilegia a compreensão, mais do que a ação.

É estudioso e intuitivo.

O maior risco da seleção, neste novo período que se inicia no Pará, é aprender a respirar ares tão novos e limpos que não se queira beber das uvas italianas daqui a um ano.

Não, tendo a água da Amazônia.

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