A experiência de fazer um safári é muito transformadora. Naqueles momentos de contato intenso com a natureza, uma pessoa percebe o que é verdadeiramente essencial na vida e conclui que devia ter ficado em casa vendo programas sobre o mundo selvagem.
Calma, não quero com isso dizer que desaconselho safáris. Mas é preciso estarem preparados para os aspectos do safári que têm menos encanto. Ia dizer glamour, mas fiz algumas descobertas chocantes sobre essa palavra.
É que eu dizia "glamurr", à francesa. Acontece que glamour é uma palavra inglesa. Portanto, tenho feito figura de idiota e, por isso, optei por encanto. Que vem do latim "incantare", que significa lançar um feitiço contra alguém.
Ora, a palavra feitiço também tem uma história interessante. Os franceses tomaram-na emprestada e criaram a palavra "fetiche". E consideramos que a invenção era útil e passamos a utilizá-la com um significado ligeiramente diferente do da palavra original. Ninguém diz "Jorge tem um feitiço de pés".
Algumas dessas reflexões foram produzidas durante o safári. Às vezes, é preciso ficar à espera. Os animais têm a sua vida, não sabem que compramos ingresso, e nem sempre se deixam ver. Esse é um dos pontos menos encantadores.
O outro é a obrigatoriedade de tomar vacinas e a necessidade de besuntar repelente em todo o corpo, para afugentar os mosquitos que não acreditam nas vacinas. Mas há aspectos encantadores.
De fato, assistir ao nascer do Sol na savana emociona. Observar os animais, às vezes a menos de um metro de distância, é empolgante. Assistir ao modo como uma leoa passeia com duas crias, nunca as perdendo de vista, ou como oito hipopótamos se banham num rio, ou como um grupo de elefantes leva o seu tempo a comer —tudo isso comove.
Os animais parecem habituados à presença humana, tanto que se comportam sem grande pudor. Vi, com bastante interesse, dois macacos, um elefante e um hipopótamo defecarem. Mas o mais impressionante foi, sem dúvida, uma enorme manada de jipes.
Lá dentro seguia o meu animal favorito, com as suas câmeras fotográficas. A manada aglomerava-se em torno dos leões, depois das girafas, depois dos rinocerontes.
Às vezes, o meu animal favorito ficava tão entusiasmado que receei que saísse do jipe, para ver melhor. O que proporcionaria um espetáculo interessante. Quando algum daqueles bichos selvagens o visse e se aproximasse, talvez o animal de que eu mais gosto de observar defecasse também.
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