Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ricardo Araújo Pereira
Descrição de chapéu
África

No safári, os animais parecem habituados à presença humana

Assistir ao nascer do Sol na savana emociona e observar os animais a menos de um metro de distância é empolgante

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A experiência de fazer um safári é muito transformadora. Naqueles momentos de contato intenso com a natureza, uma pessoa percebe o que é verdadeiramente essencial na vida e conclui que devia ter ficado em casa vendo programas sobre o mundo selvagem.

Calma, não quero com isso dizer que desaconselho safáris. Mas é preciso estarem preparados para os aspectos do safári que têm menos encanto. Ia dizer glamour, mas fiz algumas descobertas chocantes sobre essa palavra.

É que eu dizia "glamurr", à francesa. Acontece que glamour é uma palavra inglesa. Portanto, tenho feito figura de idiota e, por isso, optei por encanto. Que vem do latim "incantare", que significa lançar um feitiço contra alguém.

Ora, a palavra feitiço também tem uma história interessante. Os franceses tomaram-na emprestada e criaram a palavra "fetiche". E consideramos que a invenção era útil e passamos a utilizá-la com um significado ligeiramente diferente do da palavra original. Ninguém diz "Jorge tem um feitiço de pés".

No desenho de Luiza Pannunzio um jipe de oito lugares com três pessoas a bordo está em meio a natureza - uma folhagem verde cobre suas rodas e pequenas bolinhas amarelas sobrem feito poeira pelo desenho. Uma das pessoas ocupa os banco do meio e está com a perna direita apoiada para fora do jipe, com o braço sobre a perna e a mão esquerda segurando binóculos sobre os olhos. Esta pessoa veste calça com bolsos nas laterais, camiseta e botas. Logo a sua frente está uma pessoa com roupas típicas de safari, com máquina fotográfica no pescoço e chapéu apontando ao horizonte que faz com que o olhar do leitor seja levado a ler a frase no canto do desenho "em habitat natural". Ao lado dele, vemos uma pessoa dirigindo o jipe.
Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araujo Pereira de 7 de janeiro de 2024 - Folhapress

Algumas dessas reflexões foram produzidas durante o safári. Às vezes, é preciso ficar à espera. Os animais têm a sua vida, não sabem que compramos ingresso, e nem sempre se deixam ver. Esse é um dos pontos menos encantadores.

O outro é a obrigatoriedade de tomar vacinas e a necessidade de besuntar repelente em todo o corpo, para afugentar os mosquitos que não acreditam nas vacinas. Mas há aspectos encantadores.

De fato, assistir ao nascer do Sol na savana emociona. Observar os animais, às vezes a menos de um metro de distância, é empolgante. Assistir ao modo como uma leoa passeia com duas crias, nunca as perdendo de vista, ou como oito hipopótamos se banham num rio, ou como um grupo de elefantes leva o seu tempo a comer —tudo isso comove.

Os animais parecem habituados à presença humana, tanto que se comportam sem grande pudor. Vi, com bastante interesse, dois macacos, um elefante e um hipopótamo defecarem. Mas o mais impressionante foi, sem dúvida, uma enorme manada de jipes.

Lá dentro seguia o meu animal favorito, com as suas câmeras fotográficas. A manada aglomerava-se em torno dos leões, depois das girafas, depois dos rinocerontes.

Às vezes, o meu animal favorito ficava tão entusiasmado que receei que saísse do jipe, para ver melhor. O que proporcionaria um espetáculo interessante. Quando algum daqueles bichos selvagens o visse e se aproximasse, talvez o animal de que eu mais gosto de observar defecasse também.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.