Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

O Rio de Janeiro tem futuro?

Cidade está presa em uma trajetória decadente, mas que pode ser revertida

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Mesmo com mais um governante preso no Rio de Janeiro, os cariocas não estão acorrentados a péssimos serviços públicos e indicadores de bem-estar ruins. Há muitos exemplos de cidades grandes que conseguiram se reerguer.

Há alguns mitos sobre as dificuldades da cidade maravilhosa. O principal seria que o declínio do Rio estaria relacionado à mudança da capital para Brasília. Entretanto, a perda do status especial não é o pecado original que iniciou o processo de decadência do Rio de Janeiro.

Francisco de Melo Franco, secretário de Planejamento da Guanabara, teria afirmado que “o Rio de Janeiro faz parte da história mundial. Como pode ser um município como outro qualquer?”. Infelizmente, ele estava certo, mas porque é improvável que outro município tenha sido tão mal gerido quanto o Rio, nos últimos 60 anos.

O verdadeiro pecado original é a ideia de excepcionalidade, na qual o Rio merece ser subsidiado pelo resto do país.


Durante as décadas de 60 a 80, políticas industriais favoreceram sobremaneira o Sudeste, retirando recursos das áreas mais pobres do país para incentivar as empresas locais.

Um dos resultados disso foi o crescimento das favelas cariocas pelo êxodo rural promovido pelas políticas de industrialização e a incapacidade dos políticos locais de integrarem os recém-chegados.

Mínima competência de prefeitos anteriores teria gerado a economia mais dinâmica do país. Em vez de usar recursos públicos para tentar derrubar comunidades, prefeitos deveriam ter criado condições de moradia para todos os cariocas.

E ao longo dos anos, sempre que o abismo fiscal se aproximava, a cidade era salva por recursos do resto do país.

Em 2003, a ANP enquadrou o município na Zona de Produção Principal do Estado do Rio, transferindo mais royalties de petróleo para a cidade. Em meados da década passada, dinheiro da União para a realização dos Jogos Olímpicos adiou o colapso econômico do Rio.

Obviamente, o bem-estar dos cariocas, no longo prazo, depende mais da solução de problemas complexos, como segurança pública. Mas no resto do mundo foram políticas locais para melhorar o dia a dia dos moradores que geraram benefícios indiretos e transformaram Singapura, Copenhagen, Sydney e Londres, para ficar em alguns exemplos de cidades atraentes para todos, sejam moradores ou turistas.

Prefeitos podem fazer enorme diferença na gestão de escolas, transporte, limpeza e condições de moradia.
Há 30 anos, as pessoas evitavam viajar de trem para Copenhagen, para não ter que passar pela área de Vesterbro. Hoje, essa é a área mais viva da cidade; mais importante, a região renasceu sem expulsão dos moradores mais pobres.

Em relação ao turismo, as ações de política deveriam favorecer mais o turismo local, algo que a pandemia só vem reforçar.

O elitismo carioca gosta de ver a cidade como cartão postal do Brasil para o mundo, mas desdenha, um pouco, dos turistas locais. Quando a população estiver vacinada, o Rio deveria se voltar mais para o turismo regional.

O Rio não está falido, embora a situação fiscal seja bem ruim. A dívida municipal é de cerca de R$16 bilhões, ou pouco mais de dois terços da sua receita anual.

A cidade está presa em uma trajetória decadente, mas que pode ser revertida por gestões municipais competentes, como as de outros municípios quaisquer.

Que 2021 seja o primeiro ano da virada da cidade. Os cariocas merecem.

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