Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ronaldo Lemos

Inteligência Artificial é a nova era atômica?

Debate ressurge em época diferente; tecnologia nuclear era controlada por Estados, enquanto a IA é desenvolvida por empresas privadas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Em 1953 os Estados Unidos dominavam uma nova tecnologia capaz de mudar o mundo: a energia nuclear. O rival naquele momento era a União Soviética, outro único país a dominar a tecnologia. Nesse contexto, o presidente Dwight Eisenhower criou a iniciativa "Atoms for Peace" (Átomos para a Paz).

Apoiado por Oppenheimer, o objetivo era compartilhar usos pacíficos da energia nuclear com aliados, em troca da aceitação de regras e limites. Isso levou à criação da Agência Internacional de Energia Atômica em 1957. Países como Paquistão e Israel construíram seus primeiros reatores nucleares por causa do programa. A União Soviética fez o mesmo e começou a transferir a tecnologia nuclear para os aliados.

Letras AI, de inteligência artificial em inglês, sobre placa de circuitos com iluminação vermelha
Letras AI, de inteligência artificial em inglês, sobre placa de circuitos com iluminação vermelha - Dado Ruvic/Reuters

O resultado foi uma rápida expansão da tecnologia nuclear. O que logo trouxe enorme preocupação. EUA e União Soviética reverteram a estratégia e fizeram algo surpreendente: sentaram-se à mesa durante a guerra fria para conter a expansão nuclear, assinando o Tratado de Não-Proliferação Nuclear em 1968. Seu objetivo era promover o desarmamento, frear usos bélicos e preservar usos pacíficos.

Corte para o momento atual. Os EUA dominam hoje uma nova tecnologia capaz de mudar o mundo: a inteligência artificial. O grande rival desta vez é a China, que está em segundo lugar no domínio da tecnologia. Cerca 80% da infraestrutura necessária para a IA é controlada pelos dois países.

É nesse contexto que surge o debate sobre a criação de uma "Agência Internacional de Energia Atômica" para a inteligência artificial. O tema foi objeto de grupo de trabalho nesta semana na universidade de Stanford, na Califórnia, com a presença das principais empresas de IA, de integrantes do governo dos EUA e representantes de governos de países como a Índia e outros. Este colunista foi um dos participantes. O objetivo foi entender como a iniciativa "Atoms for Peace" pode trazer lições para a inteligência artificial. E pensar no que fazer a partir de agora.

Um dos temas discutidos foi se os Estados Unidos deveriam cooperar com países em desenvolvimento para promover a expansão do acesso à tecnologia da IA. Em troca da expansão, seria exigida a concordância com princípios básicos de usos seguros e pacíficos da tecnologia, tal como em 1953.

Foi também discutido se modelos mais avançados de IA (bem como os chips e as tecnologias adjacentes necessárias) não deveriam estar sujeitas a restrições de exportação e acesso.

Foi também debatida a viabilidade de se criar uma Agência Internacional de Energia Nuclear para IA, o que demandaria um esforço tão colossal quanto foi a assinatura dos tratados de não-proliferação. Só que as diferenças com o mundo de 1953 são enormes. A tecnologia nuclear era controlada por Estados. Já a inteligência artificial é desenvolvida por empresas privadas.

Além disso, as aplicações da IA são muito mais abrangentes. Podem ser usadas tanto para criar armamentos autônomos (o que é preocupante) quanto para contar piadas.

A visão que expressei é de que é mais viável no mundo de hoje a criação de um conselho de supervisão para IA que fosse multissetorial, envolvendo empresas, governo, comunidade científica e países aderentes. Esse debate está quente. O Brasil precisa participar dele com voz própria, original e altiva. Podemos ser protagonistas e não meros consumidores de soluções importadas.

Reader

Já era – Achar que o Brasil não tem condições de ser protagonista em IA

Já é – Perceber que o Brasil tem enormes capacidades para atuar como protagonista em IA

Já vem – Expectativa de que o Brasil atue no debate de IA à altura de suas reais capacidades

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.