Agora é tarde, as urnas já falaram. Mas, se tivéssemos sido mais atentos, o candidato ideal à Presidência estava mais do que óbvio há dois meses: o ator Marcelo Adnet. Durante seis semanas, ele estrelou uma série de nove vídeos impagáveis, “Tutorial dos Candidatos”, produzidos pelo jornal O Globo e reproduzidos em sites, redes sociais, YouTubes e que tais. Mais de 20 milhões de pessoas os acessaram, e como foi que não tivemos essa ideia? Adnet era não apenas o candidato ideal, mas o único possível —mesmo porque dispensaria todos os outros.
Nos vídeos, Adnet imitou os 13 candidatos à Presidência, e com tal acuidade em matéria de voz, sotaque, postura, esgares e, com perdão da palavra, pensamento, que vários deles se dariam melhor se tivessem ficado em casa e deixado o ator se encarregar da campanha.
Com ele nos papéis, os debates teriam sido sensacionais, não uma indução ao rigor mortis como foram. Adnet, com a ajuda de um recurso eletrônico para fazer todos os candidatos ao mesmo tempo, dialogaria consigo mesmo, só que vezes 13, num tour de force que nem Alec Guinness e Peter Sellers ousaram encarar .
Mas a grande vantagem de se ter Marcelo Adnet na Presidência é que isso eliminaria a necessidade de eleição. Seria como se os 13 tivessem vencido e pudessem se revezar no comando da nação, cada qual com seu programa de governo ou desgoverno. No decorrer do expediente no Planalto, Adnet iria passando de uma caracterização para outra, de acordo com as solicitações das bancadas, das pressões econômicas, do clamor das ruas. Ao fim de cada dia, todos os presidentes teriam governado um pouquinho. Haveria paz social.
Você dirá que seria o caos, que nenhum governo pode ser conduzido a partir de visões tão discrepantes. Bem, como já tivemos governos de esquerda apoiados pelos banqueiros e empreiteiros, não vejo como isso pudesse ser um problema.
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