Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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Solange Srour

A globalização sobreviveu à pandemia

Globalização prova ser também ser o caminho para a erradicação do vírus

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O enorme pessimismo com o futuro da globalização pós-pandemia começa a se mostrar exagerado. A vitória de Joe Biden nos Estados Unidos trouxe a esperança de retorno ao multilateralismo internacional, em oposição às políticas individualistas de Donald Trump.

Na Europa, a criação de um fundo para aliviar os danos econômicos da crise, financiado com emissões de dívida conjunta dos membros da União Europeia, foi um marco histórico. A iniciativa representou um passo em direção à união fiscal e uma tentativa de impedir o surgimento de movimentos como o brexit.

No entanto, foi na Ásia que o avanço de integração se mostrou mais significativo até agora. A finalização de um grande acordo comercial entre 15 países —com a criação do bloco denominado Regional Comprehensive Economic Partnership— reduzirá significativamente as tarifas entre países, além de fortalecer as cadeias produtivas da região. É o primeiro acordo comercial a reunir China, Japão e Coreia do Sul.

São justamente os asiáticos que parecem ser os grandes vencedores desta crise. A China será o único país com um PIB relevante a apresentar crescimento próximo de 2% neste ano, enquanto o mundo deve sofrer contração de 4,4%; e os EUA, de 4,3% —segundo o FMI.

No entanto, está longe de ser um caso isolado. O Vietnã deve crescer 1,6%, Taiwan deve permanecer estável, e a Coreia do Sul deve registrar contração de apenas 1,9%.

A região se destacou pelo controle eficaz da doença, cujo impacto sobre a quebra das cadeias produtivas foi muito menor do que o ocorrido nas Américas e na Europa.

Com essa vantagem, a Ásia conseguiu aproveitar sua elevada integração comercial com o mundo para sustentar o crescimento via exportações. Sem precisar recorrer a elevados pacotes fiscais e estímulos monetários adicionais, a forte demanda por seus produtos eletrônicos (“Zoom boom”) gerou um crescimento em forma de “V” na região.

Já os países emergentes menos integrados ao exterior recorreram excessivamente a estímulos fiscais e monetários. E agora terão de retirá-los, mesmo que suas economias não estejam completamente recuperadas, sob o risco de perder a confiança dos mercados.

Com o alto endividamento e a trajetória não sustentável dos gastos públicos, o Brasil terá a mais forte retração no impulso fiscal. No entanto, uma parcela importante da nossa economia não sofrerá: justamente os setores mais abertos ao comércio internacional (como o agronegócio, responsável por 25% do PIB) conseguiram não só ampliar mercados como também apresentar aumento de produtividade durante a pandemia.

Nossas perspectivas dependem da volta à trajetória fiscal sustentável —condição necessária, mas não suficiente, para a expansão a médio prazo. Para tal, o Brasil precisa inserir os outros 75% do seu PIB na cadeia produtiva global, inclusive no setor de serviços, via abertura comercial e atração de investimentos estrangeiros.

O futuro do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul e dos acordos bilaterais entre Brasil e EUA dependerá do nosso posicionamento em relação à questão ambiental. A realização de um leilão competitivo para a disputada implementação das faixas 5G será outro teste importante para um país que precisa deslanchar inúmeros projetos de infraestrutura.

A crise do Covid-19 atingiu o mundo num momento em que os mecanismos de coordenação internacional estavam desestabilizados. No entanto, paradoxalmente, a saída da crise será possível graças à ciência, que está cada vez mais globalizada. A cooperação mundial facilitou a distribuição de testes e uniu esforços em torno da produção e da distribuição das vacinas a serem aprovadas.

A primeira vacina a mostrar um extraordinário nível de eficácia foi desenvolvida pela BioNTech, empresa fundada por dois cientistas filhos de imigrantes turcos que chegaram à antiga Alemanha Ocidental depois do chamado “acordo de recrutamento”, que permitiu a recomposição de sua força de trabalho no pós-guerra. A globalização prova não só ter sobrevivido ao vírus como também ser o caminho para sua erradicação.

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