Michele, 31, não foi alçada às manchetes de jornais. Não teve seu nome exaltado em palavras de ordem nem estampado em bandeiras.
No último dia 7, no entanto, quando recebeu a notícia de que o STF decidiu que a prisão após condenação em segunda instância é inconstitucional, Michele “só sabia chorar”. Estava aliviada. “Tenho os meus pequenos e só penso neles”, afirmou à Folha neste domingo (10).
Ela tinha 27 anos quando se apaixonou pelo vendedor de água da passarela perto de sua casa. Tempos depois, ele foi preso. Ela passou a visitá-lo na cadeia e, ameaçada, foi forçada a entregar 446 gramas de haxixe a um conhecido do então namorado. O destino da encomenda era o cárcere. Foi pega antes pela polícia.
Michele ficou por 18 dias na Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, unidade feminina do Complexo Penitenciário de Gericinó, o Bangu 8.
Naquele ano, 2014, ela estava desempregada e cuidava da mãe que tratava um câncer. Michele já tinha três filhos, de 6, 5 e 3 anos.
Três anos depois da prisão, foi absolvida. À época o juiz considerou as provas nulas. O Ministério Público, porém, recorreu. Nessa análise, Michele foi condenada em segunda instância e um mandado de prisão foi expedido. Era o seu pesadelo de volta.
Mesmo com habeas corpus, obtido pela Defensoria Pública do Rio, ela achava que poderia ser presa a qualquer hora e de novo ficar longe dos filhos.
Desde quinta-feira, porém, Michele não tem mais medo de ir ao mercado ao lado de casa. Sabe que terá de pagar pelo erro que cometeu, mas, a exemplo de políticos famosos, poderá responder ao processo em liberdade e tentar provar que nunca foi traficante de drogas. Sua defesa pede que a pena seja revertida a prestação de serviços à comunidade.
Sem o risco de prisão surpresa, ela faz planos: quer entrar na faculdade de enfermagem e ficar cada vez mais perto dos filhos. Dias desses, aliás, o mais velho voltou da escola com o título de “mediador de conflitos”. Foi o suficiente para ela sonhar com carreira de juiz para o rebento.
"O que mais quero é ficar livre de vez."
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