Vera Iaconelli

Diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, autora de "Criar Filhos no Século XXI" e “Manifesto antimaternalista”. É doutora em psicologia pela USP

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Vera Iaconelli
Descrição de chapéu Mente Todas paternidade

A paternidade cria chances para uma nova masculinidade

Quem pode ser visto como o pai herói nos dias de hoje?

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A falta de responsabilidade de muitos homens com as crianças que colocam no mundo acaba por deixar todos os pais em maus lençóis. Além disso, entre os bem-intencionados, apenas alguns realmente assumem seu lugar junto às mulheres, gerando um contingente bem menor de pais a serem celebrados no próximo domingo.

Inseminar é fácil, embora traga grandes consequências; ser pai, por outro lado, é de ordem simbólica. Daí que sugiro separar "genitoridade" de paternidade, para não constranger uma mulher a ter que chamar um abusador de pai do seu filho, por exemplo. Além disso, temos os genitores que se recusam a assumir as concepções que produziram e que não necessariamente se tornarão pais, embora tenham que arcar com as responsabilidades legais da reprodução.

No caso dos pais que merecem o título, encontraremos todos os tipos e modelos, dos mais atuais aos mais ultrapassados. O modelo antigo requer uma mãe com espírito "vintage" para funcionar. Ele é o guerreiro que espera que as crianças já estejam de banho tomado e prontas para dormir quando chega em casa para descansar. O expediente dele terminou, enquanto o dela é ininterrupto. No máximo, ele "ajuda". Modelo sujeito à extinção, pois já está superado pelo simples fato de que, na maioria dos lares, as mulheres acumulam o trabalho fora de casa.

Pai e filha almoçando
- Tyson/Unsplash

Muitas vezes, para justificar a dupla jornada feminina, diz-se que os filhos preferem/precisam mais delas. A preferência pela mãe decorre de milhares de anos nos quais as mulheres se ocuparam de cuidar enquanto homens faziam outras tarefas, mas também de toda a carga que o significante mãe adquiriu na cultura. Afinal, com o histórico pífio dos homens no quesito abnegação e cuidado, com quem os filhos deveriam contar na hora do vamos ver?

Estudos antropológicos sobre a variabilidade de comportamento no campo dos cuidados não nos permitem apostar na gestação e aleitamento como justificativas dessa preferência.

Mas chegou a vez do pai. Seja porque eles se veem cada vez mais tendo que se virar com as crias, seja porque, mais radical ainda, educar os filhos os obriga a chafurdar nas questões da masculinidade, tão prementes hoje.

Se for menina, o medo de que seja alvo das violências de gênero traz a necessidade de repensar como deveria ser o homem capaz de protegê-la, não de ameaçá-la. Não raro, homens que confundem virilidade com violência buscam proteger suas filhas, e apenas elas, de sua truculência. Depois não entendem porque essas mesmas filhas, tão amadas e protegidas por eles, procuram maridos agressivos. Esquecem de colocar na conta o modelo de masculinidade que incutem nelas.

Quando se trata de um menino, o pai se vê confrontado com a tarefa de responder em ato o que é um homem para ele, mesmo que grande parte dessa resposta seja inconsciente. Desse confronto entre o que se pensa e o que se faz, pode surgir uma outra masculinidade, mais íntima e afetiva. Ou seja, a parentalidade pode dar o tom de um novo modelo masculino, no qual a virilidade não é sinônimo de opressão, mas uma entre outras maneiras de estar no mundo.

Pai brincando com bebê
Peter Dlhy/Unsplash

Grande oportunidade para que a próxima geração de meninos não tenha que escolher entre seguir os "red pill" ou se sentir culpada e constrangida por ser homem.

As versões dos pais no cuidado com as crianças não precisam ser comparadas às versões maternas ou contestadas por elas. Cada um a seu jeito assume a hercúlea tarefa de proteger e de cuidar por toda a vida dos que o sucedem.

Esse é o tipo de heroísmo, tão comum entre as mulheres, que se exige dos homens hoje.

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